quinta-feira, julho 23, 2009

A meu Pai


Era já noite cerrada, quando aquele jovem camponês entrava na casa iluminada pela luz da lareira e a de um candeeiro de petróleo. Lavava a cara bonita e viril, as mãos fortes e calosas, os braços robustos e sentava-se no "seu" canto, à lareira. Trabalhara o dia inteiro, desde antes de o sol nascer até depois de se ter escondido, atrás da serra. As vacas, suas amigas e companheiras, haviam sido tratadas e recolhidas, porque o dia seguinte voltaria a ser como o de hoje, o de ontem, sempre a trabalhar aquela terra dura e falsa, que nunca seria a sua. A sua jovem esposa adormecera já o bebé e ia entretendo aquele menino, a caminho dos 4 anos, para que a ceia fosse saboreada pelos três, para que o contacto do Pai com o filho fosse o momento forte de um dia que acabava. O Homem sentava-se no seu banco (tripeça) de cortiça, estendia as mãos para o lume que crepitava no lar, contavam-se as "novidades" de um dia sempre igual a tantos outros, os sorrisos e as palavras tão ansiadas surgiam, invariavelmente:
- Venha cá o meu "Troquenitas!" - era a frase chave de um envolvimento breve mas profundo entre duas pessoas que se amavam, verdadeiramente.
A Criança, como que impelida por mola invisível, saltava do seu assento e ia colocar-se entre os joelhos, já prontos para esta missão, daquele que todo o dia se afadigara para que o essencial não faltasse naquela casa. Num esforço hercúleo, de mãos dadas com aquela jovem Mulher, que fora preparando a refeição que partilhariam, dentro de instantes.
O Garoto apoiava os seus cotovelos nas pernas musculadas do Pai e por ali se ficava, ora sentando-se na esquerda, ora na direita, depois balançando-se, acariciando aquela barba dura e negra, beijando aquele rosto rude e queimado pelo frio, pelo calor, pelo vento de muitos jornadas, ao ar livre, naquela Aldeia da Beira Interior. Piruetas com piruetas, beijos com beijos, voltas e mais voltas tudo aquele jovem Pai suportava, deliciado e compensado de um dia que, desta maneira, assim, deixaria de "ser para esquecer".
- Então, "Troquenitas", portaste-te bem? Brincaste com o mano?
Não havia rádio nem TV. Em Família, conversava-se. Mesmo com as crianças. Era um despejar de perguntas, com respostas espontâneas ou sugeridas, um mostrar de habilidades, um partilhar de carinhos que a Mãe, interrompia:
- Bom, são horas de cear. Deixa o Pai em paz... Já é noite e depois temos de ir para a cama. O Pai tem de se levantar cedo para deitar de comer às vacas. E amanhã é para trabalhar.
Nunca naquela casa se comia sem agradecer a Deus e pedir a Sua Bênção. Ao comer. Ao deitar. Ao levantar. Às Avé-Marias... Pelos que estava, pelos que faltavam, pelos que precisassem...
Feita a sentida oração, era pois tempo de dar forças ao corpo. Ela lavava a loiça, abrindo um espaço pequeno para mais umas mais umas brincadeira . "Vamos deitar que já é tarde, o relógio já bateu as 9" - decidia a Mãe
O Homem acendia então a lanterna de azeite "para ir ao palheiro ver se as vacas estavam bem deitadas"... "não fosse acontecer algum azar com aquelas cordas"...
Quando regressava já a Criança dormia. As Crianças. Duas. Até mais de dez anos depois.
No dia seguinte, as cenas repetir-se-iam. Por poucos anos. O outro, o Amigo e o Rival, preparava-se já, a gatinhar, para ocupar o lugar. Para deleite do Pai. A meninice é sempre fugitiva.
Se o Pai fosse vivo, faria anos HOJE. Muitos. Muitas mais são as saudades de uma infância feliz. Até nas dificuldades. Ali tinha a certeza de que "o dinheiro não dá a Felicidade"... Muito pelo querer deste Homem. O meu único herói.
Obrigado, Pai.

segunda-feira, julho 13, 2009

Na eira - 1

- Ó António, então e ... o pão?
- Olha, Carminda, paguei as rendas - gaguejou ele, que desde o almoço temera aquele "confronto". - Não devemos nada a ninguém...
Primeiro, seguiu-se um silêncio de estupefacção. Depois, a dor, o inconformismo, mesmo a revolta tomaram asas e foi "o fim do mundo". Gritos de desespero, braços ao Céu, num clamor confrangedor, aflitivo, dolorido...
- Que vou dar de comer aos meus filhos?! Que vai ser de nós?! Para onde foi tanto suor?! Tanto trabalho?! Tanto sofrimento!!! Meu Deus! que vai ser de nós? Nossa Senhora da Graça, valei-nos... Ai! Jesus!!! Porque não me levais?!
A Grande Guerra terminara ainda não passara uma dezena de anos. A Europa levantava-se, aos solavancos, das ruínas em que a tornaram. Portugal, poupado em sangue e vidas, não o fora na fome e na miséria. Apesar da enorme mortalidade infantil - Agosto era "o mês dos anjinhos" - a garotada enchia de vida e ruído as ruas da nossa Aldeia. No Verão, dormia-se nos campos, nas choças, nas eiras ou mesmo debaixo de uma oliveira. Até ao ar livre. Para melhor "aproveitar a fresca" num trabalho sem tino nem destino. Os campos eram poucos - e mal distribuídos - para tanta força de braços e tantas bocas para alimentar. Não ficava um recanto por cultivar e a "colheita" era, muitas vezes, NADA!
Para este jovem casal a vida começara com enormes dificuldades, talvez um pouco menores do que para a grande maioria dos outros, seus conterrâneos. Os pais do António tinham umas territas e... 10 filhos. A Carminda, 4 irmãos, órfãos de pai, desde muito novos se "afeiçoaram" a fazer calos nas mãos trabalhando para os outros.
Já a primeira década do seu casamento se concluía e não "passavam da cepa torta". Ao António fora oferecido trabalho nos caminhos de ferro de Moçambique. Tinha a 5ª. classe***, uma raridade, na época, esperto para as letras e números, sem dúvida havia de fazer figura lá para as costas do Índico, desatinava-o um cunhado, casado com a meia-irmã mais velha. As lamúrias da mãe e das irmãs mais novas - eram nove, no total - e os pedidos e promessas do pai foram mais fortes que os incitamentos da Mulher, que se queria libertar, a todo o custo "daquela má vida". Havia de ficar, até à velhice, agarrado à rabiça do arado... Ela também, na sua companhia, até que a morte os separou, por 20 anos de diferença.
A tragédia daquela tarde, na eira, começara dois anos antes. As terras, poucas e mal entregues, nas mãos de meia dúzia. Terra que se visse não havia para os restantes: apenas uns quintalecos e hortejos que não tiravam ninguém da míngua. Os rebanhos eram mais que muitos, não havia pastos para tantos, e braços trabalhar não faltavam. A fome podia sempre aparecer e de subsídios nunca se ouviu falar. Nem 5 tostões para uma aspirina que aliviasse uma qualquer dor de cabeça. Nas mercearias, os escassos bens eram racionados e, às vezes, candongados. Nem giestas sobravam e qualquer carrada de codeços, estevas, rosmaninhos ou de ramos de pinho, lá no Campo Frio ou na Arrochela, da D. Carlota, a bem passar das Aranhas, podia custar 15 ou 20 escudos. Pelo melhor preço. E três "jornais": dois do forneiro, a cortar e a carregar, e o do ganhão, a acomodar no carro de vacas o que se pudesse trazer, "sempre com a morte à frente dos olhos", por aquelas ribanceiras e descampados, com a Espanha bem à vista... Os ricos... sempre a enriquecer. Até lhes pagavam para lhes limpar os terrenos e os pinhais. "Viver não custa..." Sempre foi assim, vida boa para os "espertos"!
A década de 50 já avançava para os seus meados. Correu voz na Aldeia que os P. de Matos queriam arrendar as terras do Vale do Homem, a Tapada da Tenda e a Tapada do Meio, uns 15 hectares. Lá quase a meio caminho para Monsanto... Longe que se fartava. Mas "em tempo de guerra, não se limpam armas". Foi um alarido, no Povoado. Pretendentes mais que muitos, para ganância dos proprietários. Aqueles tontos iam "queimar" as rendas... Em leilão: "Quem dá mais?" A emigração "a salto" estava ainda por descobrir!
Era já noite adiantada, quando ele "entrou pela porta adentro".
- Olha, Minda - quase sussurrou - arrendei as terras do Vale do Homem. Se queremos trabalhar, temos de ter onde! Se arranjarmos umas ovelhas e umas cabras havemos de as levar lá a pastar...
- Mas é tão longe, mais de uma hora de caminho... - falou ela, quase num sussurro.
- É a única saída. Não há mais nada. Temos os garotos e há que tratar deles...
A pergunta, ela quase se recusava a fazê-la. Mas era fatal. Como o destino.
- Então... a renda...
- A renda... - tenta ele esquivar-se. A renda.... mas que renda?
- Estás a querer fugir do importante!!! Quanto é que vamos pagar? - ganhou ela coragem para o questionar.
- Olha, acho que foi um bom negócio. Eram mais que muitos. Os irmãos Costas, o meu primo "Piorreco", que já lá mora perto, o "Baguinha", o meu primo "Batatas", o "Chequim Galucho"... Todos ao mesmo. Uns danados. Parecia que estavam doidos...
Esquecera a sua própria "doideira"...
- Ó António, quantas fanegas?
- Bom... - gagueja ele - acho que foi um preço jeitoso. Éramos muitos e tive que oferecer... tive de me chegar à frente ... 52!!!
Ela acabara de fazer 30 anos. Uma rapariga bem jeitosa, na força da vida. Ele, um pouco mais velho, cheio de energia para fazer o que sempre fizera, trabalhar. No entanto, sentiu-se um gemido de sofrimento e um silêncio embaraçoso. Que era longe, já se sabia. Que daria muito trabalho. De certeza. Que ainda devesse pagar tanto é que não havia sido programado. 52 fanegas a 4 alqueires cada uma e a 20 litros o alqueire era de mais. Os anos travessos. As nossas terras tão "pobres"...
Estava jogado. O resto se veria.
O pequeno rebanho de 40 cabeças veio pelo S. Pedro, ainda na Tapada do Cabeço. Com dinheiro emprestado. A juros. Os lobos haviam de matar 14 desses animais, logo em Fevereiro seguinte, uma mortandade de que nunca houvera notícia...
As terras eram entregues pelo S. Miguel. Estes calendários a não baterem certos... um para os gados e pastores, outro para as terras e "ganhões"...
Outubro chegou, num instante. As tapadas estava de restolho. Alquevar era preciso. Para trás e para a frente, atrás da charrua de ferro puxada pelas vacas tão meigas e valiosas.
- Aí "Morena"! Ai "Cereja". Mete ao rego. Sempre a fazer das tuas. Precisas é o corpo bem coçado. Volta!!!
Como se o seu próprio corpo e o corpo daqueles dóceis seres não estivessem já bem coçados! Mas era a conversa de dias a dias, a seguir uns aos outros, até conseguir revoltear aquela terra, parecendo pouca, para a enorme renda que havia de ser paga, em devido tempo, e muita, muita mesmo para os milhares, centenas de milhares, milhões??? de passos que iriam ser dados para a revoltear, para a seduzir, para a emprenhar, para a fazer parir o sustento da casa. E da casa dos outros. Regos, sempre regos, vai e torna, vai e torna... Um desatino. Talvez com tino.
Levar o rebanho a pastar, naquela lonjura, "mal dava para o desperdício". Arrendaram também a Tapada da Eira, essa sim, ali a dois passos do Povo, com um palheiro e um casinhoto de telha vã e condições mínimas para ser habitado, com enorme desconforto, água de um poço bem grande e a da Ribeira para regar as hortas, capoeira para as galinhas, curral para o porco, bardo para o rebanho... Ali se assentaria o "quartel-general"... Por muitos, muitos anos. Até ao fim!
- Ficas com a Tapada da Eira por ser para ti. Não me esqueço que és afilhado do Sr. José Manuel, que foi meu marido. E não me esqueço de quanto ele gostava de ti!!! - dissera a viúva, de muitas posses e sem filhos, não se esquecendo, na altura da renda, de pedir as 18 fanegas - " também por ser p'ra ti, o preço "justo" eram as 20 e muitos a queriam!!!" - ficando para benefício dela a vinha, o pomar de macieiras e pereiras, as nozes - as nogueiras quase destruíram o melhor terreno de cultura hortícola, na margem da Ribeira - a cortiça e a azeitona.
- Vá, podes apanhar a bolota - condescendeu.
Que muito jeito havia de dar. Para meu desgosto, com a sua apanha!!! Que "seca"... muitas vezes molhada!
- Ah! Os pequenos podem apanhar a fruta que caia ao chão. Não vale abanar... E não toquem nas uvas!!! Nem nos figos!!!
Uma "mãos largas". Nem sempre os "pequenos" foram tão sérios como o eram os Pais. Mas só se é Criança uma vez!!! E aos Pais não se podia dizer tudo. Arranjariam um sarilho dos antigos!
*** Artº. 3º. nº. 11: O Ensino Primário (...) será obrigatório e gratuito. Da 1ª. Constituição Republicana, de 1911.
Em 12.05.1922, Leonardo Coimbra, ministro da Instrução, elabora a 2ª. Reforma do Ensino e decreta o Ensino Primário obrigatório de 5 anos. António aproveitou da melhor maneira esta "abertura" republicana. O Estado Novo passou a Instrução Primária para 4 anos. Para os rapazes. Às Meninas "bastaria" a 3ª. classe!!!
Em 21 de Junho de 1923, o então ministro da Instrução, João José da Conceição Camoesas, apresenta à Câmara dos Deputados uma proposta de reforma do ensino que assentava em 24 bases e o dividia em 3 categorias: Geral, Especial e Superior. A esta proposta deu o nome de Estatuto da Educação Nacional. Nada foi deixado ao acaso e o espírito democrático que professava este político e os ideais de cultivar o espírito, treinar as inteligências, educação para todos, etc., iam de encontro às ideias de António Sérgio, que apoiou, incondicionalmente, esta proposta de reforma e que se opôs aos protestos que surgiram contra ela. São suas as palavras: "Quem conspira contra a reforma medite bem no que vai fazer; porque assume perante o povo a mais tremenda das responsabilidades. Um dia a nação nos há-de julgar.", Carvalho, Rómulo de, História do Ensino em Portugal, Lx, !985, p.p. 703.
(Continua)

quinta-feira, julho 09, 2009

Há cada PADRE!!!

O edifício da que já foi uma Escola frequentada por centenas de Crianças e o da Sede de "A UNIÃO de Aldeia de João Pires" ficam em frente um do outro, com a estrada de permeio, na saída Sul da povoação, em direcção ao concelho de Idanha. Ontem à tarde, de passagem para Medelim, foi grande o meu espanto, ao avistar um bom grupo dos meus conterrâneos - "de certeza" os que ainda se podem mexer, mesmo que com ajuda da bengala, calmamente sentados, à sombra, dando ideia de que algo de diferente estava a acontecer ou ia acontecer. Na brincadeira, digo para a minha Mulher:
- Olha, os "Cucos" ainda estão a festejar os 100 anos da Banda!!!
Com a aproximação, dei-me conta das muitas caras conhecidas e, devido ao meu feitio, não resisti: encostei o carro, saltei para a berma da estrada, cumprimentos para aqui e para ali e perguntei:
- Ó Lai, que "pagode" é este?
Em jeito de explicação, esta Lai era uma das primas favoritas da minha Mãe - e minha também é - andou comigo ao colo e ainda hoje não me atrevo a tratá-la por TU! Respeito grande, Amizade muito maior! Uma grande Mulher, que a vida duramente experimentou. Sempre fiel! Valente, mesmo!!!
- Olha, estamos à espera do Padre Zé Joaquim para a aula de ginástica!!!
"Segurem-me, senão eu caio!!! Padre José Joaquim!!! Aula de ginástica!!! Atletas quase todos mais velhos do que eu!!! Alguns encostados à bengala..." - pensei comigo.
- Ó Prima, deixe-se de brincadeiras e conte-me lá que festa é esta?
- É como te digo! Só não começámos ainda, porque ele foi fazer um funeral à Idanha e deve estar a chegar. Mas ninguém arranca pé.
- Ó Lai, tem de me contar. Esta só mesmo à vista!!!
Conheci o Padre José Joaquim no dia de Páscoa de 2006. Umas semanas antes, constara-me, que após uma longa interrupção, íamos ter as "boas-festas" da Ressurreição. A casa onde nasci fora reinaugurada tempos atrás e a perspectiva de reviver uma cerimónia em que tantas vezes participara, agradava-me sobremaneira e, nessa condição, nos deslocámos para lá. Foi uma tarde inteira de espera ansiosa. A minha Mulher esmerou-se para receber o cortejo pascal com uns miminhos. E "nunca mais era meio-dia", isto é, nunca mais chegava a nossa hora!
Já o Sol desaparecia por detrás do "Barroco Gordo", quando nos passa pela porta de entrada um calmeirão que teve de curvar-se para entrar no nosso Lar. Vira-o na Missa da Ressurreição, mas agora, a nosso lado, era bem maior. Risonho, simpático, bem disposto, desprendia-se dele uma cativante simplicidade, quase infantil, no melhor sentido que esta palavra possa ter. O cortejo há muito que "dera o que tinha para dar". Os mais velhos não aguentaram e os novos não estavam para sacrifícios. Só o Pároco e um acompanhante - que também já "entrara" "na segunda parte" - com a Cruz para dar o Senhor a beijar. Sabíamos que tinha os segundos contados, que não iria comer nem beber nada, mas quis informar-se de quem éramos nós e donde vínhamos e depois "ala, que se faz tarde". Ficou no ar um "incenso" de juventude e bondade - a caldeirinha de água benta já desistira também - quase deixando saudades. Foi um momento único, inesquecível, pela pessoa, pelo gesto, pelo desapego, pelo sacrifício. Pela "ressurreição" de coisas já "enterrradas". Que eu vivera bem por dentro. Estava numa privilegiada posição para avaliar o significado de tal acontecimento. Fiquei-lhe grato. Ficamos-lhe gratos.
Continuei a ouvir falar dele, do Padre José Joaquim. Quase sempre pelas melhores razões, mas por esta eu não esperava. Não esperava mesmo!
- Então ouve! - continuou a minha Prima. O Padre José Joaquim está a tirar o Mestrado em Educação Física. Há uns meses, apresentou lá na Universidade um projecto que era pôr esta gente toda a mexer. Assim, logo que ele chegue, entramos no salão da Banda e é uma festa. Como vês, o interesse é muito e já temos até a promessa de que isto vai continuar, depois do seu Mestrado, se o Senhor Bispo não nos "pregar uma partida". E olha que também venho à Escola, à noite, aprender aquilo para que não tive tempo, quando era mais nova.
Havia um brilho de juvenil encanto nos olhos da minha Lai. Também nos olhos daqueles meus Amigos e conterrâneos, perto de 40. Na sua maioria, Senhoras! Algumas barrigas, mais nos homens, a do meu Amigo Romão quase a ganhar-me. Mas todos com o seu Padre. O seu Padre com todos eles.
Tinha mesmo de seguir em busca de umas "lambarices" da "nossa" terra para fazer mal ao colesterol. Se calhar... fazer "bem". E aos diabetes. Diabretes... um nome mais apropriado. É sempre assim: o que é bom... ou faz mal... ou é pecado!!! Seguia ainda um pouco atordoado com o que vira e ouvira e, um quilómetro percorrido, em sentido contrário, lá na grande curva da primeira ponte, entra, "a matar", "prego a fundo", um pequeno "comercial" branco, de 2 lugares. Mal cabendo lá dentro, ainda reconheço o Padre Zé Joaquim. Ele devia saber que ninguém arredaria pé, aguardando o tempo que fosse preciso. CATIVARA-OS!!! Mas quem gosta de chegar atrasado?!
Ele há cada PADRE!!! Graças a Deus!
PS: No próximo Sábado será o dia da AVALIAÇÃO. UI! A palavra terror dos professores! Estes Alunos briosos e valentes, não vá o diabo tecê-las e "dar chumbo" - afinal há lá coxos e "marrecos" - já estão a preparar o banquete. Com o Professor! De boca doce, claro! Uma sugestão para a Ministra...

sábado, julho 04, 2009

José Afonso, o Silêncio que fala!!!

"O prémio espanhol Memorial LiberPress foi atribuído, este ano, a José Afonso e vai ser entregue, amanhã, numa cerimónia simbólica, na campa do cantor e compositor, no Cemitério da Nossa Senhora da Piedade, em Setúbal.
O prémio é atribuído, desde o ano passado, pela Asociacion LiberPress, com sede em Girona, Espanha, distinguindo, a título póstumo, uma personalidade que tenha lutado pela dignidade e os direitos humanos e cujo percurso de vida possa servir de exemplo à sociedade.
Fonte próxima da Associação disse, hoje, à Lusa que a iniciativa da cerimónia tem a colaboração da Associação José Afonso e da presidência da Câmara de Setúbal, e terá lugar às 11h00.
O acto simbólico de homenagem a José Afonso contará com as presenças de uma delegação da LiberPress, chefiada pelo seu presidente, Carles McCragh, do presidente da Deputation de Girona - que engloba 220 municípios - Enric Vilert, e da presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira. Também estarão presentes o vice-reitor da Universidade de Aveiro, Manuel Assunção, o presidente da Associação José Afonso, Francisco Fanhais, o jornalista Adelino Gomes, a filha de José Afonso, Helena Afonso, e amigos do cantor.
O prémio Memorial LiberPress é representado por uma placa que será, mais tarde, colocada na Universidade de Aveiro, num pequeno jardim anexo a um edifício onde existe uma livraria e uma sala de espectáculos e exposições.
O cantor e compositor José Afonso, nascido em Aveiro em 1929 e falecido em Setúbal, em 1987, ficou para sempre associado à música popular portuguesa e de intervenção contra a ditadura do Estado Novo.
Com carácter não-governamental, humanitário e sem fins lucrativos, a Associação LiberPress foi criada em Girona, em 1999, para promover a cultura de solidariedade, e procura envolver os meios de comunicação social nesse movimento realizando conferências, debates, exposições e jornadas.
Criado em 2008, o Prémio Memorial LiberPress foi então atribuído à jornalista e fotógrafa de guerra Gerda Taro, uma alemã de origem judia, que morreu num acidente, em 1937, perto de Madrid, durante a retirada das tropas republicanas, quando fazia a cobertura da Guerra Civil de Espanha".
Jornal Público de 03 JUL 2009.
Pois! Convocado pelo noticiário regional da "Rádio Sim", do seu estúdio em Palmela, não poderia deixar de comparecer. A manhã estava quente, ali em baixo a frescura do Rio Azul e, mais longe, a Serra da Arrábida, em todo o seu esplendor.
Conheço o caminho. Cemitério quase deserto, em completo sossego, fácil foi chegar à campa. Parecia ainda mais humilde, com os cravos vermelhos sempre presentes. Fui o primeiro. "Nuestros hermanos" nem parecia que tinham vindo de longe, de tão longe. Logo a seguir. Todos nos entendemos, diversas as línguas utilizadas: português, catalão, castelhano, francês, inglês. Não consegui fazer-me compreender - ou não percebi a resposta... - indagando a forma como surgiu o Zeca indigitado para o Prémio Memorial. Logo no seu 2º. ano. Dedicado aos que morreram. Há outros prémios LiberPress para os que vivem: poesia, fotografia, direitos humanos... Pessoas que se tenham distinguido a tornar o "mundo melhor". Dos Estatutos! Já atribuídos, desde 1999. A Filha de José Afonso, a doce Helena, deu as boas vindas aos presentes e agradeceu mais esta homenagem "ao Zeca"! O Presidente da Associação catalã falou, em Português, de José Afonso. Do significado do seu Silêncio tão expressivo, actual e actuante no que nos escreveu e cantou. O Vice-Reitor da Universidade de Aveiro, cidade onde o Zeca nasceu, a justificar a deslocação da placa comemorativa, ali presente, alusiva ao Prémio, para aquela Escola Superior. José Afonso é o futuro. As duas Tunas académicas da UA acolhem-no e cantam-no. As palavras sentidas, sinceras de Adelino Gomes a evocar o Homem, o Poeta, o Cantor, o Amigo. Falou pela "Associação José Afonso", AJA. A emoção de Francisco Fanhais, o Presidente, não garantia que conseguisse levar as suas palavras até ao fim! Maria de Lurdes Meira, a Presidente do Município setubalense, sábias palavras. Zeca não é de Aveiro, por lá ter nascido, nem é de Setúbal, por aqui ter morrido. José Afonso é cidadão do Mundo.
Não éramos muitos, menos de 40. Poucos para tanto Valor a homenagear. Firmemente, sob a voz sempre linda de Francisco Fanhais, todos cantaram, como podiam e sabiam, mas de coração ao alto, "Grândola, Vila Morena". Grândola, que não quis ou não pode estar presente! Mas devia!!!