Tenho 3 filhos licenciados que fizeram todo o seu percurso escolar no Ensino Público, com explicações privadas a ajudar; tenho um filho, que não é licenciado, por culpa do Ensino Público, a nível do secundário. Tive com os seus professores, meus colegas, discussões "tramadas", porque entendo que também se pode "assassinar" "matando a esperança" ou criando falsas ilusões nas Crianças, Adolescentes e Jovens, conduzindo-os a "becos sem saída", mesmo sem retorno. E "eles" "mataram a esperança" num dos meus filhos. Felizmente, este foi forte, deu a volta por cima e é, hoje, um técnico muito qualificado da Ford alemã, em Colónia. Mas custou-lhe muito mais chegar aos seus objectivos. E bastava que a Escola Pública o tivesse ajudado, reprovando-o, como nós, os Pais, queríamos, no 9º. ano. Absurdo, não é?! Nós, os Pais,l queríamos que ele fosse "retido", como agora se diz, e a Escola Pública, em que eu e a mãe nos integrávamos, não quis!!! Reconheço que isto podia também acontecer - e acontece, com demasiada frequência!!! - no Ensino Privado, onde muitas vezes, não se "mata a esperança", mas se faz viver a esperança "em coma", dando "vida"que não vai servir para nada e que conduz também ao desespero. Permita-me uma nota pessoal: para meu desgosto, pois está em causa o futuro desta Pátria, os meus filhos não querem os meus netos na Escola Pública, embora eu lha recomende. Paradoxal? Infelizmente! Até porque pagam "uma pipa da massa". Os pais são trabalhadores por conta de outrem, ela no Público, ele no Privado. Sempre a batermos no mesmo e, creio-o, não é aqui que está o cerne da questão, pois ambos têm boas avaliações nas responsabilidades que lhes estão atribuídas.!Quer saber? Até há anos tinha como únicos HEROIS os meus PAIS, simples camponeses da nossa pobre Beira, tão explorados e sofredores! Hoje, passados os 13 anos que, em breve se vão concluir também com o fim da minha missão aqui, considero os PAIS destes GAIATOS encantadores também meus HERÓIS, os enteados do Serviço Nacional de Educação. Quase 100% deles são trabalhadores, da classe média, esta em vias de desaparecer. Eles entregam-me, anualmente, quantias que poderiam aplicar num carro novo ou em férias em qualquer parte do Mundo. No entanto, por Amor aos Filhos, renunciam a muita coisa material em troca de Educação, Instrução, Segurança e Afectidade que, em seu entender, não encontram noutro lado. O nosso Colégio não está abrangido pelos "contratos de associação" e apenas um número muito reduzido de "contratos simples" e "contratos de desenvolvimento" que, normalmente, não contemplam os que mais precisam. A sua opção é HERÓICA: pagam o ensino dos seus filhos - as mensalidades só têm uma pequena percentagem de desconto em sede de IRS - e, com os seus impostos, subsidiam o Ensino Público de onde nada recebem. Até a Câmara Municipal cá vem buscar a derrama de 10% sobre o IRC que, sem qualquer contrapartida, pontualmente, também a Escola paga para financiar o Ensino Público. Perante a realidade do que encontrei, pelo menos no que se refere a esta Escola, tive de rever os meus preconceitos e tive também de pôr, nos pratos da balança, os dois sistemas e tentar avaliar, com a justiça humanamente possível. Mas, repito, não tenho nenhum pai/mãe ricos. Os filhos destes andam por outras paragens. Não raro, tenho de esperar o pagamento das mensalidades para além do desejável e razoável, quando não se vão para sempre. Uma crise!!! Se calhar, estou a ser confuso, mas quando o coração fala, a mente nem sempre acompanha... Se me permite uma avaliação ao que me disse, são sensatas as suas palavras. Não teria qualquer dúvida em subscrever um texto de fino recorte, produto da lúcida inteligência de alguém que não está no mundo "p'ra ver a banda passar", antes atento, crítico e responsável. A Democracia tem destas coisas: ou intervimos, em direcções várias, ou afunda-se no pantanal. Só há uma coisa em que discordo de si, no que toca aos "contratos de associação": eles foram uma necessidade imperiosa para o Estado, que não tinha capacidade para dar resposta à explosão da procura da Escola pelos jovens que a democratização pós 25 deAbril impôs à Nação. Mesmo com a "oferta" privada, as escolas estatais, por turnos de manhã, à tarde e à noite, transformaram-se em armazéns onde se amontoavam alunos em turmas de trinta e muitos alunos - cheguei a leccionar 40 crianças em 3 anos consecutivos e mais de trinta, durante outros - foram "o pão nosso de cada dia" e de cada um, com professores impreparados - alguns deles nunca fizeram ideia de ir parar à Escola e só lá chegaram em desespero de causa, por falta de emprego e enquanto não o arranjavam. Os "contratos de associação" permitiram que filhos de Portugueses de poucos recursos económicos frequentassem escolas privadas que estão bem colocadas nos "rankings" de avaliação, se é que isto significa alguma coisa ou se a Verdade passa por aí...Claro está que a matéria de discussão é inesgotável, mas é urgente que se faça do Aluno o centro da Escola. Há Escola e professores, porque há Alunos e não o contrário. O "corporativismo" tem de acabar. Penso que a Ministra vai no bom caminho, embora discorde de alguns dos seus métodos. Talvez por falta de dinheiro, há docentes, em actividades de enriquecimento curricular, muito mal pagos e sem qualquer avaliação do trabalho que produzem nem garantias profissionais. Duas injustiças numa situação que pode não estar a dar os frutos que a propaganda apregoa."Mal por mal o Ensino Público", escreveu. Mas o Ensino Público não tem que ser um MAL! Somos demasiado pobres para nos darmos a esse Luxo. O Ensino Público tem de ser um BEM e o ajustamento logo se dará. Há Ensino Privado porque o Estado não responde às necessidades dos Cidadãos. Quando virá o dia: "Bem por Bem o Público???!!!"
O meu "palavreado" poderá servir para os hospitais e Serviço Nacional de Saúde, onde o "corporativismo" manda - com honrosas excepções, lembro o Dr. Manuel André, entre outros - em que muitos se dão ao luxo de "tratar" os pacientes, muitas vezes, como "impecilhos" e causa para desassossego e trabalho... Eu e a minha mulher apenas vamos ao Hospital Público, regularmente, como dadores de sangue. Como doentes vamos ao Privado, onde somos acolhidos como Pessoas. E é o Privado que tem a culpa? Já esta semana lá estive e, ao menos, o médico ouviu-me e discutiu saídas comigo. No Público nem os olhos levantam para mim e dão-me dois minutos!!! Tenho tido azar? Se calhar, sim, mas é azar a mais e azar é o que menos desejo, num hospital... Esta é a verdade nua e crua. Também aqui a discussão pode ser interminável. Entendo que o SNS deve centrar-se no doente, o que está muito longe de acontecer. Ainda ontem, dois octagenários meus conhecidos, deslocaram-se, de táxi, de Beja a um hospital público de Lisboa, para estarem cerca de dois minutos com o médico, que marcou, num instante, a operação da Senhora, às cataratas, para daqui a mais de 6 meses!!! E saíu a correr - já eram 13h 30m - sem querer dar uma palavra de explicação ou conforto aos idosos ou à filha, minha colega, que faltou ao serviço para os acompanhar. A Senhora é sua doente "privada", em Beja, e candidata a operação, no "público", em Lisboa. Daqui a muitos meses!!!Já não vê, a deslocação, a desumanidade e a frieza do acolhimento causaram-lhes um sofrimento desnecessário e injusto. Ouvi o testemunho indignado da filha. Pediu o "livro amarelo"e escreveu? Não, com medo de retaliações!!! Uma promiscuidade, uma vergonha!!! Não é esta a IGUALDADE que nos canta o ZECA! Os poderosos, mesmo no Público e sobretudo aí, arranjam-se. Veja-se as operações plásticas, no Hospital de S. João... Uma vergonha. O Público não é de alguns que enriquecem até, via partidos políticos - ordenados dos administradores da GALP, CGD, Banco de Portugal... mas dos Portugueses. E é isto que torna muito céptico, depois de um indiscritível fervor pela "Revolução dos Cravos" que, em meu entender, continua por fazer. Por culpa de todos. Por culpa MINHA!!!
Desculpe a "divagação"...
Termino, sentindo que fiquei mais rico depois de ler as sábias palavras que fez o favor de me enviar e por elas lhe digo, à nossa maneira, BEM-HAJA.
Com um abraço que espero, um dia, possa ser de Amigo, sou, ao seu dispor,
o António A. Serrano