sexta-feira, novembro 14, 2008

José Afonso - Traz-me outro Amigo!!!


Tentei adiar esta visita o mais possível, pois tinha a certeza de que seria muito diferente, embora tudo se conjugasse para que fosse a repetição da que te fizera, na Primavera passada. A tarde calma e soalheira, o céu fortemente azul, pouco menos azul que o nosso "Rio Azul" de onde soprava, desta vez também, uma brisa ligeira, agradável, enquanto lentamente, muito lentamente, quase que com sacrifício, percorria a ampla alameda central do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade para chegar à terra que te guarda para sempre depois da morte, enquanto permaneces bem vivo no minha memória e no meu coração.
 Mais do que um peregrinar foi um arrastar-me, só porque precisava de estar uns momentos contigo, só os dois, relembrando os teus poemas admiráveis - quando serão estudados nas nossas escolas? - ouvindo as músicas de encantar que para nós compuseste, escutando o trinar da viola que tão bem dedilhavas. O silêncio sepulcral tinha, hoje, todo o cabimento. Tantos e tão calados. Mesmo os poucos vivos que por lá andavam não se faziam ouvir. A azáfama das limpezas terminara e um ou outro peregrino meditava. Como eu! E recordei, de especial modo, a tua canção que tanto me encanta e com que me desafias a cada instante "Traz outro amigo também..." Na Primavera passada, levei-te "muitos amigos". E a minha alma abria, em flor - ah! o teu fado "Saudades de Coimbra"!!! - como é próprio daquela estação. Neste Outono, tal como as folhas das árvores que nos rodeiam, os amigos "caíram"... "Sic transit gloriae mundi!" A estação é própria para isso, para nos darmos conta disso. Estivemos "frente a frente". Quase me desafiaste! E, ao voltar-te as costas para subir a ladeira suave que me foi conduzindo à porta desse "dormitório", o verdadeiro significado na língua de Sócrates, que não o "nosso", quase desejei aceitar e ficar também ao pé de ti. Para sempre. Em Paz!

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