sexta-feira, maio 25, 2012

A inquisição na nossa vida...

OS INQUISIDORES DOS TEMPOS MODERNOS
(*)"Ao chegar a uma localidade, os Inquisidores proclamavam que todos seriam obrigados a assistir a uma missa especial, e ali ouvir o "édito" da Inquisição lido em público. No fim do sermão, o Inquisidor erguia um crucifixo e exigia-se que os presentes erguessem a mão direita e repetissem um juramento de apoio à Inquisição e seus servos. Após este procedimento lia-se o "édito", que condenava várias heresias, além do Islão e ...o judaísmo, e mandavam que se apresentassem os culpados de "contaminação". Se confessassem dentro de um "período de graça" poderiam ser aceites de volta à igreja sem penitência, porém teriam que denunciar outras pessoas culpadas que não tivessem se apresentado. Não bastava denunciar-se como herege para alcançar os benefícios do "édito", deveria denunciar os cúmplices. O ónus da justificação ficava com o acusado. Essa denúncia foi usada por muitos como vingança pessoal contra vizinhos e parentes, para eliminar rivais nos negócios ou no comércio. A fim de se adiantarem a uma denúncia de outros, muitas pessoas prestavam falso testemunho contra si mesmas e denunciavam outras."
 
Nos 300 anos em que a Inquisição existiu em Portugal, quem denunciava o "herege", muitas vezes, fazia-o para garantir sua fé e status perante a sociedade, tentando assim ficar longe das suspeitas que lançava sobre o outro.
Foi assim que muito se destruiu do tecido social de Portugal.
Esses tiques não desapareceram, ao longo dos anos incrustaram-se na sociedade e permanecem hoje sobre outras capas.
A tal "inveja" de que muitos falam ser um problema social em Portugal, (e é!) vem, normalmente, acompanhada de um "falar mal na pedra da paciência" que é o resquício desses actos de denúncia que durante a Inquisição existiam.
Podemos também observar um outro tique social que se pode identificar com a mesma origem, tique esse que consiste em armar uma teia de maldizer, capaz de levar os mais tontos e ingénuos a tomar, publicamente, o papel de acusadores, despoletando assim a ira da populaça.
Esses tiques que ficaram desses três séculos de Inquisição são, talvez, a principal razão do nosso atraso social e da incapacidade que em Portugal as pessoas têm de trabalhar em comum e para o bem comum.
Quando em Portugal algo se faz para o bem comum, há sempre alguém com inveja que tece, na “pedra da paciência”, uma teia tentando apoderar-se do que a outros pertence, procura aliados, por norma os mais incapazes, fracos intelectualmente e incultos, ou seja, os mais susceptíveis de serem manipulados, lança sobre os que tiveram a ousadia de fazer algo as suspeitas e denúncias, mantendo-se na retaguarda, não se mostrando, mas espicaçando os outros para que o façam, convencendo-os de que serão heróis ao fazê-lo, e assim se destrói tudo em Portugal.
Todos os que em Portugal tentam, honestamente, fazer algo têm que emigrar, fugir deste ambiente medieval e inquisidor, que ainda existe no tecido social português.
Na Raia, terra onde existiu uma enorme comunidade judaica e onde persiste uma tremenda falta de cultura, esses tiques estão mais presentes e evidentes; talvez, por isso, não seja tão pouco comum como isso, ver pessoas que aparentam ser honestas revelarem-se com os mesmos tiques, que tinham os que, durante a Inquisição, denunciavam, injustamente, os seus amigos e familiares, durante as leituras do "Éditos". Nessa altura, muitos dos que o faziam, tentavam assim escapar à fogueira; agora tentam obter para si próprios benefícios e relevo social.
E ,assim, se destrói um concelho, um país, uma nação, porque ainda não foi capaz de se libertar de uma herança de 300 anos de perseguições e denúncias, impedindo que, neste país, os que cá nascem possam viver em paz e felizes.(*)
Texto original de Joaquim Tomé, com ligeiras alterações autorizadas a Joaquim Fonseca

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