Vi-o, pessoalmente e pela última vez, faz agora 48 anos. Era manhã de São João
daquele ano distante de 1968 e o N/M "Império", um dos orgulhos da
nossa Marinha Mercante de então - hoje nem se imagina o que isso foi... -
atracara, na doca de Alcântara, depois da maravilhosa sensação de regressar a
casa, Tejo acima, a ver de Cascais até Lisboa, sob o lindo sol daquele dia do
Verão a começar.
Os abraços habituais com palmadas nas costas, "apareça que vou gostar de o ver, um beijo à sua mulher", "está
lá em baixo, no cais, já a vi com a Menina ao colo", "então, adeus!
E foi. Para sempre. Aqui tão perto...
Haviam sido dois anos de trabalhos na segurança e
na informação das transmissões das nossas forças armadas que, na prática,
terminaram ali. Ouviria falar muito dele nas televisões e nas rádios, ver a sua
imagens nas capas de jornais e revistas - não tão famoso como o foi a sua filha
Catarina.
Depois, um dia, há sempre esse dia, a noticia da
sua partida. Para sempre.
Descanse, em paz.
Hoje deu-me para ter saudades suas a daquela sua
maneira de ser Oficial que, entre a outras coisas, me "ganharam" 5
dias de "licença para noivar" (???) que, sem a sua coragem um tanto
irresponsável, me levou a "desertar" do Quartel do Morro para cinco
dias únicos da minha vida, na nossa vida.
-Vá, que eu entendo-me com o Capitão. E com o
Comandante, mas não vai ser preciso.
E não foi!
Obrigado, Eduardo!
Palavras só palavras...
Fui passando, dando conta dos meus estados de alma, relatando para a página o que vi, ouvi, saboreei, senti e cheirei ao longo de uma vida que já vai longa: angústias e alegrias, medos e fanfarronices, lazeres e trabalhos... Falei da minha vida, da minha Aldeia e da minha Beira, enfim, daquilo que amei ... mesmo que já não possa ver. Se lhe dei motivo para me revisitar, agradeço do coração o tempo que me concede.
sexta-feira, junho 24, 2016
domingo, junho 19, 2016
No tempo dos lagares com varas
Toda a Aldeia era mobilizada para a apanha da azeitona e os mais sortudos
ficavam nos lagares, debaixo de telha e no calor da fogueira sempre acesa.
Aquela geringonça com pesadas rodas de pedra era puxada por uma junta de VACAS,
junta que podia ir também, pela tardinha - os dias eram muito curtos e frios -
buscar os sacos de azeitona, ao olival. Não se vê a trave toda mas, na ponta,
estava um gancho de ferro, onde "engatava" o "cambão" que
passava entre as duas vacas e se atrelava à "canga" pelo
"tamoeiro" de couro, canga já assente no cachaço dos mansos animais
que haviam de "gramar a pastilha", duas horas a andar, sem saírem do
mesmo sítio. A dita canga assentava no cachaço e fixava-se aos cornos pelas
"piassas" e ainda mais uma volta por baixo no pescoço com... já não
me lembro do nome. Assim se dava coesão aos "cangalhos" e as vacas
não tinham hipótese de fuga ao trabalho. Nem direito a horas extra pagas...
Depois de entornados alguns cestos de azeitonas retiradas das tulhas, a
geringonça entrava em movimento e não podia parar. E mais cestos de azeitonas
era despejados, os animais sempre a mexer. Mais de duas horas, já escrevi, até
que a massa das azeitonas assim esmagadas ficasse em condições de ser espremida
nas seiras, sob um enorme tronco de castanheiro ou de sobreira, em cuja
extremidade, ainda com restos das grossas raízes, fora pendurada uma bem pedra
pedra em feitio de tronco de cone. Só geringonças. Que funcionavam. No lagar de
varas.... Voltemos às três rodas dentro do pio. Tudo em granito... Quase sempre
as vacas estavam em desacordo para fazer aquela caminhada, andando, andando,
sem saírem do mesmo sítio, a paisagem sem mudar. Um homem tinha de caminhar,
atrás delas, a "motivá-las", para que não parassem.
Mas que haviam de acrescentar à geringonça? Um banco. Não desses falidos,
mas de madeira, encaixado na trave, para atrair os garotos. Criança que
aparecesse no lagar para lhe molharem o pão no azeitinho acabadinho de fazer
era convidada a dar umas voltas atrás das vacas. Com o engodo de uma
"viagem" sem pagar bilhete, sentadinho no banquinho, a cheirar o rabo
das vacas e a saber como é que as vacas funcionavam.
- Vá lá! Não custa nada... Vais sentado neste banquinho e não te cansas. É
só enquanto torramos o teu pão e o metemos no azeite...
E lá ia o garoto, vara na mão, tocando, tocando as vacas. E vendo aquelas
azeitonas, aquelas rodas, aquela massa que havia de dar azeite, para molhar
aquele pão que tanto custava a torrar.
E a brincadeira lá fora. E o maroto do sol a esconder-se. E os amigos aos
saltos, nas corridas e nos jogos. No Pereiro, no largo do Rato, no Adro, na
Estrada, no bairro da Mocidade, no pátio da Escola... E ele ali sentadinho, às
voltas e a sonhar...
- Podes sair. O pão está torrado e molhado. Queres comer?!
O acordar com que se sonhara todo o dia, pão molhado em azeite fresquinho.
Só que a brincadeira dessa tarde também se fora...
As viagens que eu fiz naquele banquinho!... E outros Meninos da nossa
Aldeia.
- Avô, queres que te conte uma história de Aldeia que vem aqui na
Internet?!
terça-feira, junho 14, 2016
Cenas da Vida Militar 3
Maçaricos
Depois das emoções do desembarque, ao largo, e transportados em lanchas, a noite fora curta e mal dormida, nas excelentes instalações para os Sargentos solteiros do CTI de S. Tomé e Príncipe.
O Sol nasceu pelas 5 horas e a faina diária começava, às 7 horas, no quartel ali mesmo ao lado. Apresentar-se com as guias de marcha era um pró-forma a que nenhum militar podia furtar-se. Bem barbeado e penteado, vestidinho de novo – as fardas verdes ainda eram novidade nas Colónias…- servido o pequeno almoço com meia dúzia de bananas – foi assim durante semanas – eu e o Joaquim Caria, ambos no Serviço de Segurança e Informação do Exército, alegres e curiosos , entrámos na vasta parada do Quartel do Morro. Íamos tão satisfeitos ou distraídos com tudo o que nos saltava à vista, mesmo ainda indisciplinados com os 10 dias a bordo do N/M Niassa, que só “aterrámos” quando, a dado momento, alguém nos gritou :
- Ó nossos Furriéis, venham cá”!
Voltámo-nos e demos de caras com o olhar zangado de um Capitão, a quem nos dirigimos, de pronto.
Com a continência o mais aprumada possível de quem cumprira a recruta uns meses atrás, saudámos o oficial
- Bom dia, meu Capitão!
Retribuindo a saudação, continuou:
- Bom dia. Maçaricos, hein?! A pensar que isto é tudo vosso… Podem seguir… E que não torne a acontecer.
Já menos entusiasmados, seguimos para o que havia de ser o nosso local de trabalho, até quinze de Junho de 1968.
- Quem era o Capitão, assim, assim…?
- Ui!!! O Capitão Luz de Almeida… Não deixa passar uma. E logo em frente à “casa” dele, a CAÇ7 de que é o comandante?!
O Destino fora-nos grato. Noutras partes de África, companheiros e amigos nossos lutavam para sobreviverem e os Capitães não estariam, assim, tão interessados no ”bater da pala”…
Depois das emoções do desembarque, ao largo, e transportados em lanchas, a noite fora curta e mal dormida, nas excelentes instalações para os Sargentos solteiros do CTI de S. Tomé e Príncipe.
O Sol nasceu pelas 5 horas e a faina diária começava, às 7 horas, no quartel ali mesmo ao lado. Apresentar-se com as guias de marcha era um pró-forma a que nenhum militar podia furtar-se. Bem barbeado e penteado, vestidinho de novo – as fardas verdes ainda eram novidade nas Colónias…- servido o pequeno almoço com meia dúzia de bananas – foi assim durante semanas – eu e o Joaquim Caria, ambos no Serviço de Segurança e Informação do Exército, alegres e curiosos , entrámos na vasta parada do Quartel do Morro. Íamos tão satisfeitos ou distraídos com tudo o que nos saltava à vista, mesmo ainda indisciplinados com os 10 dias a bordo do N/M Niassa, que só “aterrámos” quando, a dado momento, alguém nos gritou :
- Ó nossos Furriéis, venham cá”!
Voltámo-nos e demos de caras com o olhar zangado de um Capitão, a quem nos dirigimos, de pronto.
Com a continência o mais aprumada possível de quem cumprira a recruta uns meses atrás, saudámos o oficial
- Bom dia, meu Capitão!
Retribuindo a saudação, continuou:
- Bom dia. Maçaricos, hein?! A pensar que isto é tudo vosso… Podem seguir… E que não torne a acontecer.
Já menos entusiasmados, seguimos para o que havia de ser o nosso local de trabalho, até quinze de Junho de 1968.
- Quem era o Capitão, assim, assim…?
- Ui!!! O Capitão Luz de Almeida… Não deixa passar uma. E logo em frente à “casa” dele, a CAÇ7 de que é o comandante?!
O Destino fora-nos grato. Noutras partes de África, companheiros e amigos nossos lutavam para sobreviverem e os Capitães não estariam, assim, tão interessados no ”bater da pala”…
quinta-feira, agosto 20, 2015
Era tempo... história com rostos!
In illo tempore…
Não havia relógios, nem rádios, nem TV’s, nem jornais, nem bordas
d’água, nem automóveis, nem camioneta da carreira sequer. A estrada ainda havia
de ser construída, primeiro de terra batida, depois macadamizada… Muitos,
muitos anos depois alcatroada. A Missa era em Latim, padre de costas para
o Povo, todos virados para Jerusalém… Aqui as pessoas nasciam, cresciam, viviam
e morriam sem outros horizontes que não fosse ver as aldeias em redor, muito
raramente pôr os pés na Vila. A pé. Descalços pelo caminho, quantas vezes.
Ouvia-se
falar que o comboio já passava lá na Fatela, muitas horas de esforço por
caminhos intransitáveis que um ou outro mais afoito se atrevia a calcorrear e a
ir espreitar, para depois, olhos
esbugalhados, contar: “Medonho”! “Muito
feio”…
Pela altura
do sol se sabiam as horas, com a chegada das andorinhas se sabia que era tempo
de semear. Dias e dias sempre iguais a tantos outros já vividos.
As olaias
começavam a sorrir, os domingos maiores e diz o sacristão para o velho pároco:
- Ó senhor
prior, a “festa de flores” deve estar por aí a chegar…
- Tens razão,
Manuel, as geadas já foram, as searas vão subindo, trabalho aí nos campos é o
que não falta… Olha lá, dás um salto à Vila e “assim como não quer a coisa”
vais indagando como param as modas… se a
procissão dos Passos já está na rua.
- Oh! Senhor
Prior, com tanto trabalho não me peça uma coisa dessa…
- Repara
bem, próximo no domingo é o teu dia.
Sais bem cedo, vais num pé e vens noutro…
O velho
prior sabia que não era bem assim. Duas léguas bem medidas em cada sentido,
nunca menos de duas horas para lá chegar. Mas confiava na ligeireza daquelas
pernas fortes em corpo esguio, músculos trabalhados no árduo labor de cada dia.
E usou mais um efeito bem persuasivo:
- Se cá estiveres
à saída da missa do dia… vais almoçar na casa paroquial…
Ora, que
melhor argumento podia arranjar. Todos sabiam que a irmã do prior o tratava
como se deve tratar um abade e os seus cozinhados tinham fama…
Levantara-se
bem cedo, o Manuel, naquele domingo. A tarefa nem era muito difícil, mas levava
tempo, claro.
Subia a velha
calçada que dava acesso à Vila, ofegante, e bem sacudia a cabeça, incrédulo.
Não podia estar a ouvir o que ouvia. Apressou o passo tanto quanto lho consentia o
bater acelerado do coração. Queria ver com os próprios olhos o que os ouvidos
se negavam a acreditar. E viu! Um Oooh! de espanto e incredulidade e não perdeu
mais tempo com perguntas. A realidade ali estava “nua e crua”…. "Fazendo das tripas coração"..dá meia volta e “Ala que se faz tarde…” a caminho de Aldeia. Tinha de o fazer. Era urgente... Havia de chegar a tempo.
“Ite, missa
est”, acabava de pronunciar o celebrante, quando o pobre sacristão, esbaforido,
rompe coxia central acima:
- Senhor
Prior, senhor Prior! Grande desgraça. Nem imagina o que lá vi, na Vila…
- Calma,
homem! Vá, senta-te e respira! Tragam água… Afastem-se… - conforta-o o
sacerdote, homem pouco dado a excitações sem razão.
Tinha sido
um burburinho. Os que já estavam fora, voltaram a entrar e o velho templo rebentava
pelas costuras. Na sua calma habitual, o sacerdote “dava tempo ao tempo” e, por
fim, ordenou:
-
Desembucha, homem! Que viste de tão anormal lá na Vila?
- Senhor
Prior, não vai acreditar. Eu também não, se não visse… Mas vi… na rua andava a
procissão de Domingo de Ramos… Eu vi, eu vi!
- Já domingo
de Ramos?! – comentou, na maior calma, o prior.
Hesita
breves instantes, coça a cabeça e ordena:
– Então… olha, vai tocar os sinos às aleluias
que não nos hão de ganhar!!!
domingo, agosto 09, 2015
Cenas da vida militar 2
Tinha acabado a tropa?!
Agosto de 1965. A primeira fase da recruta, com o “juramento de
Bandeira” lá no “hotel” das Caldas da Rainha era já uma saudade e chegáramos a Tavira ainda “revoltados” de
não nos ter sido dado o fim de semana de folga com que tanto sonháramos e que
era quase obrigatório, no final de cada ciclo de instrução. “Não, ninguém vai a
casa, isto agora é tropa a valer”! O CMDT poderia ter tido problemas com a
mulher nessa noite, assim pensava a rapaziada sempre descomprometida.
Encatrafiados, à molhada, num comboio de muitas e velhas carruagens,
mesmo assim insuficientes para acomodar tantos passageiros, pela tarde – os
movimentos da “tropa” eram feitos de noite, por motivos cada vez mais óbvios –
aí vamos nós a caminho de umas “merecidas férias”, no Algarve, então uma região
pobre e quase desconhecida de portugueses e estrangeiros. Eram poucas e
fugidias as pessoas que se cruzavam com aquela massa humana, fardada a
preceito, a marcar passo, na baixa de Lisboa, da estação do Rossio à do
Terreiro do Paço, estação Sul e Sueste, de onde se haviam de acomodar, “em molhada”, no barco da CP que os
deixaria de costas para a velha capital do Império, navegando para a “outra
margem”. No percurso fluvial, avistavam-se, confusamente, na escuridão da noite
aliviada pelas luzes de Lisboa e Almada, os gigantescos pilares que haviam de
suportar a nova e tão falada ponte a inaugurar dali a um ano.
Cortando o negrume da noite avançada,
a potente locomotiva diesel, uma novidade nas nossas estradas de ferro,
ia galgando milhas e milhas pela vasta campina alentejana, em direcção ao Sul, rebocando velhas e desconfortáveis carruagens
superlotadas com centenas de jovens recrutas acomodados da melhor maneira que
podiam em bancos de madeira ou no chão, iluminados por fracas e poucas lâmpadas
acesas. O calor daquele quente mês de Agosto entrava pelas janelas escancaradas
e, enquanto alguns dormitavam, a maior parte, sem pregar olho, falava, jogava
ou pensava no sem presente sombrio e num futuro próximo angustiante. O
desconhecido estava à sua espera.
A um canto, acabrunhado, António revia o filme dos últimos dias
passados lá no “hotel” das Caldas, o RI 5.
O “juramento de bandeira” na vasta esplanada do quartel, o rancho
melhorado, a tarde livre, depois da grande decepção pela notícia de que, contra
o habitual, não havia fim-de-semana prolongado para ninguém. Nem prolongado nem
curto, “surpresas” com que “domavam” aquela juventude inquieta e generosa.
No dia seguinte ao do juramento,
afixadas as listas de especialidades e colocação, formação de novas unidades
por destinos, dando pulos de satisfação com a “sorte” que lhe calhara: analista
de informação transmissões, lá no BRT, soube depois, ali na Trafaria, mesmo à
beirinha de Lisboa. Que só seria muito tempo depois. Era "preciso "trabalhar" mais o corpo e a alma...
Cabendo à maior parte ter por “abrigo” o CISMI, lá bem no Sul de
Portugal. quartel de má fama pela dureza dos instrutores que, como havia de ser
provado, tinham por missão preparar para a guerra, fazer a guerra e sobreviver. Uma Unidade
especializada na formação de gente para combater, o Centro de Instrução de
Sargentos Milicianos de Infantaria. E lá iam parar os futuros sargentos da
Infantaria e especialidades de apoio: das Transmissões, das Minas e Armadilhas,
dos Morteiros... Ficariam depois a saber que haviam decidido acrescentar à sua
formação e treino mais três de Instrução geral para preparar aqueles que seriam
a espinha do Exército combatente em África, em guerras cada vez mais difíceis e
desastrosas, os Sargentos Milicianos.
Deitados nos beliches das velhas camaratas daquele velho quartel, os que iam
abrindo os olhos nem queriam acreditar. Acabara a tropa? Estremunhados, olhavam
para os relógios. Seis e meia, a hora do toque de alvorada, tempo de levantar,
preparar, rapidamente, barba bem rapadinha; formar para o café seria logo a seguir e logo depois a formatura para o dia de instrução militar… Sempre fora, assim, na
rotina dos últimos três meses. “I can’t stop loving you” com Ray Charles
ouvia-se, distinta e "carinhosamente".
Então… não estou na tropa; a tropa
acabou!!!! E a tentação de dar a volta para o outro lado e continuar a dormir
foi pronta!
Nisto, feito pesadelo, um vozeirão: “Olá, "meninos", queriam caminha, hein?! Toca a levantar que aqui a
tropa não é de brincadeira” ! Os mimadinhos das Caldas!!! Agora é que vão saber o
que é instrução. Toca a levantar, rápido!!!”, gritou o sargento que, soubemos depois, ser o Loureiro, lá de Chaves.
O sono e o sonho foram-se, num instante!
Mas com o Ray Charles continuou, todos os dias, por três meses, às seis
horas e meia. Em ponto.
I CAN STOP LOVING YOU!!!
terça-feira, março 25, 2014
Com o Papa Francisco...
Francisco
F raternidade, humildade e
simplicidade são as suas obras,
R enúncia ao poder tem sido a sua
marca,
A exemplo de São Francisco de Assis seguiu a
pobreza,
N ome atual dedicado à ecologia,
C onstrução de uma igreja, tem
como missão,
I nclusão social e intelectual são
trabalhos que o dignificam,
S erviço é seu maior desejo,
C uidando de um bilhão de almas,
O primeiro Papa jesuíta e latino
inaugura uma nova época.
Dario Pacheco
sábado, setembro 21, 2013
Ah! O penalti!!!
Primavera do ano lectivo de 1963-64.
Não é novidade que o Eng. Ressurreição , se bem me recordo um
“lampião" ferrenho e então no princípio da sua estadia no nosso Colégio,
gostava de futebol e, com as mais que fracas instalações de que dispunha,
motivava bastante a rapaziada para que a prática do desporto-rei ali tivesse
algum significado.
A maioria dos “atletas” era de fraca qualidade, pois as “academias” ainda estavam a “milénios” de acontecer e a “malta” “dava uns pontapés” mais para se divertir que para sonhar um dia vir a ser craque lá na então longínqua Lisboa, onde o Benfica enrolara o Barcelona e o Real Madrid em duas finais europeias. Sinceramente, de todos os alunos de então penso que só o Rolo, aspiraria a jogar no Idanhense, vá lá nalgum dos clubes da capital do distrito… Em meu entender era mesmo o melhor de entre todos nós, quase sempre bem toscos. Que me perdoem esta franqueza os que pudessem “andar a sonhar acordados”. Até posso estar enganado e ter de lá saído algum craque. Mas a vida militar arrastou-me, o Colégio cresceu e os “milagres”, não surgindo todos os dias, podiam depois ter acontecido. Oxalá!
Mas estou para aqui “a meter palha” e a história a escapar-se.
O ponto culminante do futebol do colégio era o Torneio inter-turmas, com alguns ajustamentos para dar oportunidade àqueles que ninguém queria na equipa da sua turma. Quer pela minha aselhice natural, quer porque a turma de Alemão – um dia vou explicar porque me tornei aluno de Alemão, disciplina que só concluí 13 anos depois!!! Essa também é uma boa história”, como cantava/canta o grande Roberto Carlos no seu “Calhambeque”… - ter poucos alunos para constituírem uma formação completa, a certas altura vejo-me na equipa dos aselhas e “marginais”, nitidamente fadada para ser a última do torneio. E todos aproveitavam para “malhar” em nós…
Estava a decorrer um jogo no campo improvisado no pátio do recreio sem grandes condições para que os aselhas não o fossem tanto, quando um “jeito” do árbitro nos arranja um penalti contra os nossos valorosos adversários, que muito se fartaram de contestar. Aquilo era mesmo uma “roubalheira”. Hoje, com os óculos de melhor qualidade, penso que foi mesmo um jeito. “A corrupção” não é só de hoje e penso que uma gasosa fresquinha podia fazer toda a diferença.
Quem chuta, quem não chuta e o Pedroso “atreve-se” a viver a tremenda “angústia do marcador do penalti frente ao guarda-redes”. Ainda houve algumas reclamações “marco eu, marco eu!”, mas a "convicção" do Pedroso venceu as resistência, porque nós queríamos era mesmo UM golo.
A coisa começou a ficar pouco ortodoxa quando, depois de medidos os passos da praxe – ora, queriam marcações de campo, não?! – o Pedroso se ajoelhou, soprou o chão e começou a levantar um montinho de terra. Para que seria? Ora, para colocar a bola mesmo lá no cimo. Já não era só a angústia do marcador, mas a de todos nós, os restantes membros da equipa.
Bola bem equilibrada no alto do montinho de terra, a uns metros da baliza, guarda-redes adversário um tanto desconfiado com a “cena” e do “resultado” que aquilo poderia ter – ainda esboçou um protesto junto do árbitro que se limitou a aceitar a “novidade”… - e o Pedroso vem tomar balanço lá para o meio campo. Que não era muito longe, diga-se de passagem.
Havendo transmissão pela rádio ouvir-se-ia o seguinte:
- Senhor ouvintes, o “perigoso” avançado Pedroso toma balanço, a meio campo, fixa a bola e depois o guarda-redes, vai partir, perde alguma embalagem, finalmente chega perto da bola, remata e… nem vão acreditar… o monte de terra desapareceu, há uma pequena nuvem de pó e a bola segue, suavemente, para a baliza, onde o guarda-redes, sem ter ocasião de brilhar, recolho o esférico com a maior facilidade.
Até ao fim do ano falou-se menos da equipa vencedora do torneio – talvez a do Sr. Engenheiro, pois ele era “fanático” pela bola e, mesmo não sendo Aluno, participava, com alegria, em meu entender sempre na “melhor equipa”, certamente por ele ser um reforço de peso. Guardo dele as melhores recordações e aproveito para o homenagear com esta brincadeira.
Nota: A história, no seu essencial, aconteceu. Algumas variantes que fujam da rigorosa exactidão, são próprias de quem já não tem a cabecinha dos verdadeiros artistas que escrevem por aqui a concorrer comigo.
Saio a perder, mas a minha idade dá-me “direito” a falhar penaltis…
Ficaria contente se o Pedroso pudesse contestar:
- Olha que não foi bem assim…
A maioria dos “atletas” era de fraca qualidade, pois as “academias” ainda estavam a “milénios” de acontecer e a “malta” “dava uns pontapés” mais para se divertir que para sonhar um dia vir a ser craque lá na então longínqua Lisboa, onde o Benfica enrolara o Barcelona e o Real Madrid em duas finais europeias. Sinceramente, de todos os alunos de então penso que só o Rolo, aspiraria a jogar no Idanhense, vá lá nalgum dos clubes da capital do distrito… Em meu entender era mesmo o melhor de entre todos nós, quase sempre bem toscos. Que me perdoem esta franqueza os que pudessem “andar a sonhar acordados”. Até posso estar enganado e ter de lá saído algum craque. Mas a vida militar arrastou-me, o Colégio cresceu e os “milagres”, não surgindo todos os dias, podiam depois ter acontecido. Oxalá!
Mas estou para aqui “a meter palha” e a história a escapar-se.
O ponto culminante do futebol do colégio era o Torneio inter-turmas, com alguns ajustamentos para dar oportunidade àqueles que ninguém queria na equipa da sua turma. Quer pela minha aselhice natural, quer porque a turma de Alemão – um dia vou explicar porque me tornei aluno de Alemão, disciplina que só concluí 13 anos depois!!! Essa também é uma boa história”, como cantava/canta o grande Roberto Carlos no seu “Calhambeque”… - ter poucos alunos para constituírem uma formação completa, a certas altura vejo-me na equipa dos aselhas e “marginais”, nitidamente fadada para ser a última do torneio. E todos aproveitavam para “malhar” em nós…
Estava a decorrer um jogo no campo improvisado no pátio do recreio sem grandes condições para que os aselhas não o fossem tanto, quando um “jeito” do árbitro nos arranja um penalti contra os nossos valorosos adversários, que muito se fartaram de contestar. Aquilo era mesmo uma “roubalheira”. Hoje, com os óculos de melhor qualidade, penso que foi mesmo um jeito. “A corrupção” não é só de hoje e penso que uma gasosa fresquinha podia fazer toda a diferença.
Quem chuta, quem não chuta e o Pedroso “atreve-se” a viver a tremenda “angústia do marcador do penalti frente ao guarda-redes”. Ainda houve algumas reclamações “marco eu, marco eu!”, mas a "convicção" do Pedroso venceu as resistência, porque nós queríamos era mesmo UM golo.
A coisa começou a ficar pouco ortodoxa quando, depois de medidos os passos da praxe – ora, queriam marcações de campo, não?! – o Pedroso se ajoelhou, soprou o chão e começou a levantar um montinho de terra. Para que seria? Ora, para colocar a bola mesmo lá no cimo. Já não era só a angústia do marcador, mas a de todos nós, os restantes membros da equipa.
Bola bem equilibrada no alto do montinho de terra, a uns metros da baliza, guarda-redes adversário um tanto desconfiado com a “cena” e do “resultado” que aquilo poderia ter – ainda esboçou um protesto junto do árbitro que se limitou a aceitar a “novidade”… - e o Pedroso vem tomar balanço lá para o meio campo. Que não era muito longe, diga-se de passagem.
Havendo transmissão pela rádio ouvir-se-ia o seguinte:
- Senhor ouvintes, o “perigoso” avançado Pedroso toma balanço, a meio campo, fixa a bola e depois o guarda-redes, vai partir, perde alguma embalagem, finalmente chega perto da bola, remata e… nem vão acreditar… o monte de terra desapareceu, há uma pequena nuvem de pó e a bola segue, suavemente, para a baliza, onde o guarda-redes, sem ter ocasião de brilhar, recolho o esférico com a maior facilidade.
Até ao fim do ano falou-se menos da equipa vencedora do torneio – talvez a do Sr. Engenheiro, pois ele era “fanático” pela bola e, mesmo não sendo Aluno, participava, com alegria, em meu entender sempre na “melhor equipa”, certamente por ele ser um reforço de peso. Guardo dele as melhores recordações e aproveito para o homenagear com esta brincadeira.
Nota: A história, no seu essencial, aconteceu. Algumas variantes que fujam da rigorosa exactidão, são próprias de quem já não tem a cabecinha dos verdadeiros artistas que escrevem por aqui a concorrer comigo.
Saio a perder, mas a minha idade dá-me “direito” a falhar penaltis…
Ficaria contente se o Pedroso pudesse contestar:
- Olha que não foi bem assim…
segunda-feira, maio 06, 2013
Resultados da execução do acordo ortográfico... rir até às lágrimas!!!
ACORDO ORTOGRÁFICO - JOSÉ MANUEL FERNANDES
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e
acompanhando a forma como as pessoas realmente falam .
Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a
mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros .
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas .
É um fato que não se pronunciam .
Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se ?
O que estão lá a fazer ?
Aliás, o qe estão lá a fazer ?
Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade .
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra .
Porqe é qe "assunção" se escreve com "ç" "ascensão" se escreve com "s" ?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome.
Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o "ç" .
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o "ç" e o substitua por um simples "s" o qual passaria a ter um único som .
Como consequência, também os "ss" deixariam de ser nesesários já qe um "s" se pasará a ler sempre e apenas "s" .
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas,designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar.
Claro, "uzar", é isso mesmo, se o "s" pasar a ter sempre o som de "s" o som "z" pasará a ser sempre reprezentado por um "z" .
Simples não é? se o som é "s", escreve-se sempre com s. Se o som é "z" escreve-se sempre com "z" .
Quanto ao "c" (que se diz "cê" mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de "q") pode, com vantagem, ser substituído pelo "q". Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras.
Nada de "k" .Ponha um q.
Não pensem qe me esqesi do som "ch" .
O som "ch" será reprezentado pela letra "x".
Alguém dix "csix" para dezinar o "x"? Ninguém, pois não ?
O "x" xama-se "xis".
Poix é iso mexmo qe fiqa .
Qomo podem ver, já eliminámox o "c", o "h", o "p" e o "u" inúteix, a tripla leitura da letra "s" e também a tripla leitura da letra "x" .
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex .
Não, não leiam "simpléqs", leiam simplex .
O som "qs" pasa a ser exqrito "qs" u qe é muito maix qonforme à leitura natural .
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente .
Vejamox o qaso do som "j" .
Umax vezex excrevemox exte som qom "j" outrax vezex qom "g"-ixtu é lójiqu?
Para qê qomplicar ? ! ?
Se uzarmox sempre o "j" para o som "j" não presizamox do "u" a segir à letra "g" poix exta terá, sempre, o som "g" e nunqa o som "j" .
Serto ?
Maix uma letra mud a qe eliminamox .
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem !
Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex ?
Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade ?
Outro problema é o dox asentox.
Ox asentox só qompliqam !
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox .
A qextão a qoloqar é: á alternativa ?
Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra "a" .
Umax vezex lê-se "á", aberto, outrax vezex lê-se "â", fexado .
Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax .
Vejamox o "o": umax vezex lê-se "ó", outrax lê-s
Se u som "u" pasar a ser sempre reprezentado pela letra "u" fiqa tudo tão maix fásil !
Pur seu lado, u "o" pasa a suar sempre "ó", tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra "e", também pudemux fazer alguma qoiza : quandu soa "é", abertu, pudemux usar u "e" .
U mexmu para u som "ê" .
Max quandu u "e" se lê "i", deverá ser subxtituídu pelu "i" .
I naqelex qazux em qe u "e" se lê "â" deve ser subxtituidu pelu "a" .
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex .
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u "til"
subxtituindu, nus ditongux, "ão" pur "aum", "ães"- ou melhor "ãix" - pur
"ainx" i "õix" pur "oinx" .
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu dearqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a
simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu .
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum ?...
I porqe naum?...
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e
acompanhando a forma como as pessoas realmente falam .
Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a
mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros .
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas .
É um fato que não se pronunciam .
Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se ?
O que estão lá a fazer ?
Aliás, o qe estão lá a fazer ?
Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade .
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra .
Porqe é qe "assunção" se escreve com "ç" "ascensão" se escreve com "s" ?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome.
Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o "ç" .
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o "ç" e o substitua por um simples "s" o qual passaria a ter um único som .
Como consequência, também os "ss" deixariam de ser nesesários já qe um "s" se pasará a ler sempre e apenas "s" .
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas,designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar.
Claro, "uzar", é isso mesmo, se o "s" pasar a ter sempre o som de "s" o som "z" pasará a ser sempre reprezentado por um "z" .
Simples não é? se o som é "s", escreve-se sempre com s. Se o som é "z" escreve-se sempre com "z" .
Quanto ao "c" (que se diz "cê" mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de "q") pode, com vantagem, ser substituído pelo "q". Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras.
Nada de "k" .Ponha um q.
Não pensem qe me esqesi do som "ch" .
O som "ch" será reprezentado pela letra "x".
Alguém dix "csix" para dezinar o "x"? Ninguém, pois não ?
O "x" xama-se "xis".
Poix é iso mexmo qe fiqa .
Qomo podem ver, já eliminámox o "c", o "h", o "p" e o "u" inúteix, a tripla leitura da letra "s" e também a tripla leitura da letra "x" .
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex .
Não, não leiam "simpléqs", leiam simplex .
O som "qs" pasa a ser exqrito "qs" u qe é muito maix qonforme à leitura natural .
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente .
Vejamox o qaso do som "j" .
Umax vezex excrevemox exte som qom "j" outrax vezex qom "g"-ixtu é lójiqu?
Para qê qomplicar ? ! ?
Se uzarmox sempre o "j" para o som "j" não presizamox do "u" a segir à letra "g" poix exta terá, sempre, o som "g" e nunqa o som "j" .
Serto ?
Maix uma letra mud a qe eliminamox .
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem !
Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex ?
Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade ?
Outro problema é o dox asentox.
Ox asentox só qompliqam !
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox .
A qextão a qoloqar é: á alternativa ?
Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra "a" .
Umax vezex lê-se "á", aberto, outrax vezex lê-se "â", fexado .
Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax .
Vejamox o "o": umax vezex lê-se "ó", outrax lê-s
Se u som "u" pasar a ser sempre reprezentado pela letra "u" fiqa tudo tão maix fásil !
Pur seu lado, u "o" pasa a suar sempre "ó", tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra "e", também pudemux fazer alguma qoiza : quandu soa "é", abertu, pudemux usar u "e" .
U mexmu para u som "ê" .
Max quandu u "e" se lê "i", deverá ser subxtituídu pelu "i" .
I naqelex qazux em qe u "e" se lê "â" deve ser subxtituidu pelu "a" .
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex .
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u "til"
subxtituindu, nus ditongux, "ão" pur "aum", "ães"- ou melhor "ãix" - pur
"ainx" i "õix" pur "oinx" .
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu dearqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a
simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu .
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum ?...
I porqe naum?...
quarta-feira, abril 24, 2013
José Afonso, o Professor: Uma Aula no Liceu de Setúbal, em 1967...
Memórias de uma aula no Liceu de Setúbal
Barreiro, 4
de Outubro de 1967
(Quarta-feira)
Segundo dia
de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar beijos, abraços e
confidências, depois desta longa separação que foram 3 meses e meio de férias.
Estávamos todos fartos do verão, com saudades uns dos outros. A sala é a mesma
do ano passado, no 1º andar e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar
do material já ser mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio
ninguém de novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º 34,
e fico sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é o lugar dos
mais altos.
Hoje
tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos um professor
novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal, dizem que
veio corrido de um liceu de Coimbra, por causa da política. Já ontem se falava
à boca cheia dele, havia malta muito excitada e contente porque dizem que ele é
um fadista afamado. Tenho realmente uma vaga ideia de ouvir o meu tio
Diamantino falar dele, mas já não sei se foi por causa da cantoria se por causa
da política. A Inês contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o homem é
todo revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela diz que
ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser comunista. Diferente
dos outros professores, é de certeza. Quando entrou na sala, já tinha dado o
segundo toque, estava quase no limite da falta. Entrou por ali a dentro, todo
despenteado, com uma gabardine na mão e enquanto a atirava para cima da
secretária, perguntou-nos:
- Vocês são
o 7.º A, não são? Desculpem o atraso, mas enganei-me e fui parar a outra sala.
Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear.
Tinha um ar
simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada com a imagem de todos
os outros professores. Deu para perceber que as primeiras palavras, aliadas à
postura solta e descontraída, começavam a cativar toda a gente. A Carolina
virou-se para trás e disse-me que já o tinha visto na televisão, a cantar Fado
de Coimbra. Realmente o rosto não me era estranho. É alto, feições correctas,
embora os dentes não sejam um modelo de perfeição e é bem parecido, digamos que
um homem interessante para se olhar. O Artur soprou-me que ele deve ter uns 36
anos e acho que sim, nota-se que já é velho. Depois das primeiras palavras,
sentou-se na secretária, abriu o livro de ponto, rabiscou o que tinha a
escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio, a olhar o pátio vazio, através
das janelas da sala, impecavelmente limpas.
Enquanto ele
estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar uns com os outros,
cada um emitindo a sua opinião, fazendo conjecturas. Às tantas, o bichanar foi
subindo de tom e já era uma algazarra tão grande que parece tê-lo acordado.
Outro qualquer professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças,
mas ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se
importasse. Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto esteve
ausente, era tão distante que mais parecia ter-se, efectivamente, evadido da
sala. Quando recomeçou a falar connosco, em pé, em cima do estrado, já tinha
ganho o primeiro round de simpatia. Depois, veio o mais surpreendente:
- Bem, eu
sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos que não
percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então sabem, de
certeza, mais que eu. Gargalhada geral.
- Podem rir
porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas disciplinas, aquelas em
que me formei, são História e Filosofia, não tenho culpa que me tivessem posto
aqui, tipo castigo, para dar uma matéria que não conheço, nem me interessa.
Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou para isso.
Não entro em palhaçadas.
Voltámos a
rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e
sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.
- Pois é,
não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente inúteis e
falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um minuto do
meu estudo com esta porcaria.
Começámos a
olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha passado pela frente
um professor com tamanha ousadia.
- Eu
estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse, como noutros
países acontece, não é esta fantochada que não passa de pura teoria.
Na prática não existe, é uma Constituição carregada de falsidade. Portugal vive
numa democracia de fachada, este regime que nos governa é uma ditadura desumana
e cruel.
Não se ouvia
uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o sorriso e estavam agora
absolutamente atónitos, vidrados no rosto e nas palavras daquele homem ímpar. O
que ele nos estava a dizer é o que ouvimos comentar, todos os dias, aos nossos
pais, mas sempre com as devidas recomendações para não o repetirmos na rua
porque nunca se sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma nuvem de
fumo branco, que se sente mas não se apalpa.
- Repito: eu
não percebo nada desta disciplina que vos venho leccionar, nem quero perceber.
Estou-me nas tintas para esta porcaria. Mas, atenção, vocês é outra coisa.
Vocês vão ter que estudar porque, no final do ano, vão ter que fazer exame para
concluírem o vosso 7.º ano e poderem entrar na Faculdade. Isso, vocês tem que
fazer. Estudar. Para serem homens e mulheres cultos para poderem combater, cada
um onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a vossa pátria e a
dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que lutar por um novo
país. Não vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha, basta
estudarem umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale nada. Eu venho
dar aulas, preciso de vir, preciso de ganhar a vida, mas as minhas aulas vão
ser aulas de cultura e política geral. Vão ficar a saber que há países onde
existem regimes diferentes deste, que nos oprime, países onde há liberdade de
pensamento e de expressão, educação para todos, cuidados de saúde que não são
apenas para os privilegiados, enfim, outras coisas que a seu tempo vos
ensinarei. Percebem? Nós temos que aprender a não ser autómatos, a pensar pela
nossa cabeça. O Salazar quer fazer de vocês, a juventude deste país, carneiros,
mas eu não vou deixar que os meus alunos o sejam. Vou abrir-lhes a porta do
conhecimento, da cultura e da verdade. Vou ensinar-lhes que, além fronteiras,
há outros mundos e outras hipóteses
Outra coisa:
vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm que ter notas para ir
a exame. O ponto que farei será com perguntas do vosso livro que terão que ter
a paciência de estudar. A matéria é uma falsidade do princípio ao fim, mas não
há volta a dar, para atingirem os vossos mais altos objectivos. Têm que
estudar. Se quiserem copiar é com vocês, não vou andar, feita toupeira, a
fiscalizá-los, se quiserem trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no
entanto acho que devem começar a endireitar este país no sentido da
honestidade, sim porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de
vigaristas. Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais
velhos, em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que mostrar o que
somos, temos que ser dignos connosco para sermos dignos com os outros. Por
isso, acho que não devem copiar. Há que criar princípios de honestidade e isso
começa em vocês, os futuros homens e mulheres de Portugal. Não concordam? Bem, por
hoje é tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula.
Espantoso.
Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que fenómeno é este que
aterrou em Setúbal?
Já me
esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso professor de Organização
Política, chama-se Zeca Afonso.
Autor
desconhecido
sábado, março 09, 2013
Pós "Dia da Mulher"... uma Mulher no Brasil, D. Ruth Cardoso, ex-primeira dama na Nação irmã...
A ex-primeira dama Dona Ruth Cardoso
lançou sementes do Bolsa Família, quando persuadiu o Presidente Fernando
Henrique Cardoso a criar a “unificação dos programas de Transferência de Renda
e de combate à fome no país”, segundo Antony Hall .
Ruth Cardoso era antropóloga com
doutorado na Universidade de Columbia nos Estados Unidos, tendo sido professora
em faculdades americanas e inglesas. Portanto, sendo acadêmica e intelectual
era respeitada, podendo se expressar com autoridade.
Foi a única primeira dama que saiu dos
bastidores para se tornar uma importante figura pública. Sempre foi muito independente
de Fernando Henrique; nem mesmo quis morar em Brasília. Hall diz ainda “O apelo
carismático de Ruth Cardoso entre a classe média e a camada mais pobre da população
se deve justamente à sua preocupação pela questão social”.
Em entrevista no programa de Jô Soares,
comentou sobre o programa de Comunidade
Solidária, esclarecendo que a solidariedade é a consciência de que a sociedade
é feita de várias partes que funciona em conjunto, transformando o ato
individual de solidariedade numa consciência da coletividade.
Dizia que o governo precisava garantir
e resolver problemas universais como saúde e escola pública. Portanto investiu
nas parcerias e voluntariado, ocasião em que apareceram muitas ONGS para dar
conta da demanda social. Estas organizações surgiram como proposta resolverem
problemas das pessoas de baixa renda e de resgate do Artesanato de Raiz como Boneca
Esperança e Brinquedos; tais projetos
consistiam em descobrir os talentos nos municípios rurais, formando pequenos
grupos de pessoas que aprendiam a técnica de fazer uma boneca de pano ou
caminhão de madeira com os artesãos remanescentes da área rural passavam a
vender a produção nas cidades.
Ela teve a proposta de “organizar a
comunidade, usando a sua sabedoria, suas armas próprias, aprendendo a se
relacionar com o comércio se defendendo de explorações, se tornando autônomo”,
diz Hall.
Muitos jovens entre 14 e 16 anos foram
beneficiados com tais projetos, e outros como “cabeleireiros étnicos” que aprenderam e continuam aprendendo a
trabalhar sem precisar de longos cursos de três anos para ser cabeleireiro. ONGS
dão acessórias ligadas ao movimento negro para tratar cabelo afro. Os jovens que
gostavam de música e teatro também aprendiam esses talentos e se tornavam
animadores de festa e de rua. Estes são
projetos criados no governo de FHC, que previam a inclusão social da grande
comunidade brasileira através do projeto Comunidade Solidária.
Sob sua liderança o Programa
Comunidade Solidária possibilitou o diálogo entre o Estado e a Sociedade, por
meio de estratégias desenvolvidas pelo Conselho de Brasília chamado de
“Rodadas” de Interlocução Política com a participação de 10 ministros de Estado
e 21 membros da sociedade.Como resultado destas “Rodadas”,
surgiu o incentivo ao Crédito Popular e a aprovação pelo Congresso Nacional da
Gratuidade do Registro Civil e Regimentação do Trabalho Voluntariado.
Ela criou o programa Bolsas (para
Universitários), Bolsa Escola, Juventude e Mercado de trabalho, Auxílio Gás,
Brasil Jovem ( Agente de Desenvolvimento Social e Humano para jovens de 15 e 17
anos nas comunidades de baixa renda).
·
Bolsa Qualificação;
·
Seguro Desemprego;
·
Seguro Safra;
·
Aposentadoria e pensões rurais;
·
Beneficio de prestação continuada;
·
Renda mensal vitalícia;
·
Abono salarial;
·
PIS/PASEP;
·
Implantação de centros de juventude;
·
Fiscalização para erradicação do
trabalho infantil;
·
Geração de ocupações produtivas para
famílias de crianças atendidas pelo programa de erradicação do trabalho
infantil.
Em agosto de 2003, o presidente Lula,
sabiamente, pegou a sólida estrutura deste projeto de unificação das políticas
públicas criando o Bolsa Família.
Aproveitei o momento do dia da Mulher
da Mulher para homenagear Dona Ruth Cardoso e a cada mulher que no dia a dia da
vida está educando seus filhos,
colaborando, voluntariamente com a sociedade em geral.
Estamos no momento de seguir os
preceitos de solidariedade deixados por
Dona Ruth que percebeu a necessidade da colaboração individual de cada
um para que o resultado coletivo ocorra de um modo eficaz e mais acelerado.
Assim toda a sociedade ganha. Toda mulher está envolvida nesse processo
solidário e educativo.
Parabéns Mulher de Vinhedo!
Parabéns Mulher da Região
Metropolitana de Campinas.
Minha Estima!
sexta-feira, fevereiro 22, 2013
A fernando Ulrich! A todos os banqueiros...
Excelente
texto de Alice Brito sobre as 'bocas' chocantes e
inaceitáveis do banqueiro (BPI) Fernando Ulrich
"Sei que a raiva não é boa conselheira. Paciência. Aí vai. Havia dantes no coração das cidades e das vilas umas colunas de pedra que tinham o nome de picotas ou pelourinhos. Aí eram expostos os sentenciados que a seguir eram punidos com vergastadas proporcionais à gravidade do seu crime. Essa exposição tinha também por fim o escárnio popular. Era aí que eu te punha, meu glutão. Atadinho com umas cordas para que não fugisses. Não te dava vergastadas. Vá lá, uns caldos de vez em quando. Mas exibia-te para que fosses visto pelas pessoas que ficaram sem casa e a entregaram ao teu banco. Terias de suportar o seu olhar, sendo que o chicote dos olhos é bem mais possante que a vergasta.
Terias, pois, de suportar o olhar daqueles a quem prometeste o paraíso a prestações e a quem depois serviste o inferno a pronto pagamento. Daqueles que hoje vivem na rua. Daqueles que, para não viverem na rua, vivem hoje aboletados em casa dos pais, dos avós, dos irmãos, assim a eito, atravancados nos móveis que deixaram vazias as casas que o teu banco, com a sofreguidão e a gulodice de todos os bancos, lhes papou sem um pingo de remorso. Dizes com a maior lata que vivemos acima das nossas possibilidades. Mas não falas dos juros que cobraste. Não dizes, nessas ladainhas que andas sempre a vomitar, que quando não se pagava uma prestação, os juros do incumprimento inchavam de gordos, e era nesse inchaço que começava a desenhar-se a via-sacra do incumprimento definitivo.
Olha, meu estupor, sabes o que acontece às casas que as pessoas te entregam? Sabes, pois… São vendidas por tuta e meia, o que quer dizer que na maior parte dos casos, o pessoal apesar de te ter dado a casa fica também com a dívida. Não vale a pena falar-te do sofrimento, da vergonha, do vexame que integra a penhora de uma casa, porque tu não tens alma, banqueiro que és.
Tal como não vale a pena referir-te que os teus lucros vêm de crimes sucessivos. Furtos. Roubos. Gamanços. Comissões de manutenção. Juros moratórios. Juros compensatórios, arredondamentos, spreads, e mais juros de todas as cores. Cartões de crédito, de débito, telefonemas de financeiras a oferecerem empréstimos clausulados em letrinhas microscópicas, cobranças directas feitas por lumpen, vale tudo, meu tratante. Mesmo assim tiveste de ser resgatado para não ires ao fundo, tal foi a desbunda. E, é claro, quem pagou o resgate foram aqueles contra quem falas todo o santo dia.
Este país viveu décadas sucessivas a trabalhar para os bancos. Os portugueses levantavam-se de manhã e ainda de olhos fechados iam bulir, para pagar ao banco a prestação da casa. Vidas inteiras nisto. A grande aliança entre a banca e a construção civil tornavam inevitável, aí sim, verdadeiramente inevitável, a compra de uma casa para morar. Depois os juros aumentavam ou diminuíam conforme era decidido por criaturas que a gente não conhece. A seguir veio a farra. Os bancos eram só facilidades. Concediam empréstimos a toda a gente. Um carnaval completo, obsessivo, até davam prendas, pagavam viagens, ofereciam móveis. Sabiam bem o que faziam.
Na possante dramaturgia desta crise entram todos, a banca completa e enlouquecida, sendo que todos são um só. Depois veio a crise. A banca guinchou e ganiu de desamparo. Lançou-se mais uma vez nos braços do estado que a abraçou, mimou e a protegeu da queda.
Vens de uma família que se manteve gloriosamente ricalhaça à custa de alianças com outros da mesma laia. Viveram sempre patrocinados pelo estado, fosse ele ditadura ou democracia. Na ditadura tinham a pide a amparar-vos. Uma pide deferente auxiliava-vos no caminho. Depois veio a democracia. Passado o susto inicial, meu deus, que aflição, o povo na rua, a banca nacionalizada, viraram democratas convictos. E com razão. O estado, aquela coisa que tu dizes que não deve intervir na economia, têm-vos dado a mão todos os dias. Todos os dias, façam vocês o que fizerem. Por isso falas que nem um bronco, com voz grossa, na ingente necessidade de cortes nos salários e pensões. Quanto é que tu ganhas, pá? Peroras infindavelmente sobre a desejável liberalização dos despedimentos.
Discursas sem pejo sobre a crise de que a cambada a que pertences é a principal responsável.
Como tu, há muitos que falam. Aliás, já ninguém os ouve. Mas tu tinhas que sobressair. Depois do “ai aguenta, aguenta”, vens agora com aquela dos sem-abrigo. Se os sem-abrigo sobrevivem, o resto do povo sobreviverá igualmente.
Também houve sobreviventes em Auschwitz, meu nazi de merda!
É isso que tu queres? Transformar este país num gigantesco campo de concentração. Depois, pões a hipótese de também tu poderes vir a ser um sem-abrigo. Dizes isto no dia em que anuncias 249 milhões de lucros para o teu banco. É o que se chama um verdadeiro achincalhamento. Por tudo isto te punha no pelourinho. Só para seres visto pelos milhares que ficaram sem casa. Sem vergastadas. Só um caldo de vez em quando. Podes dizer-me que é uma crueldade. Pois é. Por uma vez terás razão. Nada porém que se compare à infinita crueldade da rapina, da usura que tu defendes e exercitas.
És hoje um dos czares da finança. Vives na maior, cercado pelos sebosos Rasputines governamentais. Lembra-te porém do que aconteceu a uns e ao outro."
inaceitáveis do banqueiro (BPI) Fernando Ulrich
"Sei que a raiva não é boa conselheira. Paciência. Aí vai. Havia dantes no coração das cidades e das vilas umas colunas de pedra que tinham o nome de picotas ou pelourinhos. Aí eram expostos os sentenciados que a seguir eram punidos com vergastadas proporcionais à gravidade do seu crime. Essa exposição tinha também por fim o escárnio popular. Era aí que eu te punha, meu glutão. Atadinho com umas cordas para que não fugisses. Não te dava vergastadas. Vá lá, uns caldos de vez em quando. Mas exibia-te para que fosses visto pelas pessoas que ficaram sem casa e a entregaram ao teu banco. Terias de suportar o seu olhar, sendo que o chicote dos olhos é bem mais possante que a vergasta.
Terias, pois, de suportar o olhar daqueles a quem prometeste o paraíso a prestações e a quem depois serviste o inferno a pronto pagamento. Daqueles que hoje vivem na rua. Daqueles que, para não viverem na rua, vivem hoje aboletados em casa dos pais, dos avós, dos irmãos, assim a eito, atravancados nos móveis que deixaram vazias as casas que o teu banco, com a sofreguidão e a gulodice de todos os bancos, lhes papou sem um pingo de remorso. Dizes com a maior lata que vivemos acima das nossas possibilidades. Mas não falas dos juros que cobraste. Não dizes, nessas ladainhas que andas sempre a vomitar, que quando não se pagava uma prestação, os juros do incumprimento inchavam de gordos, e era nesse inchaço que começava a desenhar-se a via-sacra do incumprimento definitivo.
Olha, meu estupor, sabes o que acontece às casas que as pessoas te entregam? Sabes, pois… São vendidas por tuta e meia, o que quer dizer que na maior parte dos casos, o pessoal apesar de te ter dado a casa fica também com a dívida. Não vale a pena falar-te do sofrimento, da vergonha, do vexame que integra a penhora de uma casa, porque tu não tens alma, banqueiro que és.
Tal como não vale a pena referir-te que os teus lucros vêm de crimes sucessivos. Furtos. Roubos. Gamanços. Comissões de manutenção. Juros moratórios. Juros compensatórios, arredondamentos, spreads, e mais juros de todas as cores. Cartões de crédito, de débito, telefonemas de financeiras a oferecerem empréstimos clausulados em letrinhas microscópicas, cobranças directas feitas por lumpen, vale tudo, meu tratante. Mesmo assim tiveste de ser resgatado para não ires ao fundo, tal foi a desbunda. E, é claro, quem pagou o resgate foram aqueles contra quem falas todo o santo dia.
Este país viveu décadas sucessivas a trabalhar para os bancos. Os portugueses levantavam-se de manhã e ainda de olhos fechados iam bulir, para pagar ao banco a prestação da casa. Vidas inteiras nisto. A grande aliança entre a banca e a construção civil tornavam inevitável, aí sim, verdadeiramente inevitável, a compra de uma casa para morar. Depois os juros aumentavam ou diminuíam conforme era decidido por criaturas que a gente não conhece. A seguir veio a farra. Os bancos eram só facilidades. Concediam empréstimos a toda a gente. Um carnaval completo, obsessivo, até davam prendas, pagavam viagens, ofereciam móveis. Sabiam bem o que faziam.
Na possante dramaturgia desta crise entram todos, a banca completa e enlouquecida, sendo que todos são um só. Depois veio a crise. A banca guinchou e ganiu de desamparo. Lançou-se mais uma vez nos braços do estado que a abraçou, mimou e a protegeu da queda.
Vens de uma família que se manteve gloriosamente ricalhaça à custa de alianças com outros da mesma laia. Viveram sempre patrocinados pelo estado, fosse ele ditadura ou democracia. Na ditadura tinham a pide a amparar-vos. Uma pide deferente auxiliava-vos no caminho. Depois veio a democracia. Passado o susto inicial, meu deus, que aflição, o povo na rua, a banca nacionalizada, viraram democratas convictos. E com razão. O estado, aquela coisa que tu dizes que não deve intervir na economia, têm-vos dado a mão todos os dias. Todos os dias, façam vocês o que fizerem. Por isso falas que nem um bronco, com voz grossa, na ingente necessidade de cortes nos salários e pensões. Quanto é que tu ganhas, pá? Peroras infindavelmente sobre a desejável liberalização dos despedimentos.
Discursas sem pejo sobre a crise de que a cambada a que pertences é a principal responsável.
Como tu, há muitos que falam. Aliás, já ninguém os ouve. Mas tu tinhas que sobressair. Depois do “ai aguenta, aguenta”, vens agora com aquela dos sem-abrigo. Se os sem-abrigo sobrevivem, o resto do povo sobreviverá igualmente.
Também houve sobreviventes em Auschwitz, meu nazi de merda!
É isso que tu queres? Transformar este país num gigantesco campo de concentração. Depois, pões a hipótese de também tu poderes vir a ser um sem-abrigo. Dizes isto no dia em que anuncias 249 milhões de lucros para o teu banco. É o que se chama um verdadeiro achincalhamento. Por tudo isto te punha no pelourinho. Só para seres visto pelos milhares que ficaram sem casa. Sem vergastadas. Só um caldo de vez em quando. Podes dizer-me que é uma crueldade. Pois é. Por uma vez terás razão. Nada porém que se compare à infinita crueldade da rapina, da usura que tu defendes e exercitas.
És hoje um dos czares da finança. Vives na maior, cercado pelos sebosos Rasputines governamentais. Lembra-te porém do que aconteceu a uns e ao outro."
domingo, fevereiro 17, 2013
Benfeitores nacionais
Portugal visto por Lobo Antunes
Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a
vida.
Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos,culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade. O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito. Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver: - Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro - Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima - Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos semdificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho. Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar. Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto. Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes. |
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