domingo, maio 25, 2008

O "estado da nação"...

Estimado Colega,
Tenho alegria em lhe dizer que sou seu conterrâneo, não no sentido lato, mas quase restrito, pois nascemos no mesmo Concelho. Vi a primeira luz do dia e fiz-me jovem, em Aldeia de João Pires. Ainda por lá ensinei, na "primária", durante 5 anos - 2 am Aldeia do Bispo e 3 em Penamacor, com quase 4 anos de tropa, pelo meio, 2 anos dos quais em África - aonde voltei, em 1971, como professor, tendo-me fixado em Setúbal, a partir de 1974 e por aqui vou dar fim àcarreira de 47 anos, se Deus quiser, em 31 de Agosto.
Conheço várias pessoas na Meimoa - a Ana Madeiras é minha comadre, embora vão nos vejamos há anos - o António Cabanas Moiteiro e a Clara, sua esposa, são aqui quase meus vizinhos - vivo em Palmela e eles em Azeitão, mas já o vi esta semana. Quando vou a Aldeia, de vez em quando gosto de almoçar num dos restaurantes lá da sua Meimoa, embora já fosse mais entusiasta pelo passeio e refeição do que o sou, actualmente. O texto que tão bem exprime o seu pensar, repito, como no anterior, honrar-me-ia subscrevê-lo. Eu lido com pessoas, como já disse, que procuram o Ensino Privado, em desespero de causa e não por vaidade, pois o Estado não responde aos seus anseios. E têm de pagar por isso duas vezes, mensalidades e impostos, com enorme sacrifício, na maior parte dos casos com que lido, diariamente. O que esta Ministra tenta implementar nas Escolas Públicas, um acolhimento condigno e ensino de qualidade, passe a vaidade, já se praticava na Escola nº. 8 de Setúbal, sob a minha modesta direcção, nos anos 80. Lá recebíamos as Crianças das 8 às 19 horas, sendo isto uma completa novidade, naquela Cidade. Fundou-se a "Liga de Amigos da Escola" e, com os Pais, levámos a cabo um Projecto interessante, pelo menos. O primeiro jardim de infância público da península de Setúbal também lá foi instalado poucos meses depois da publicação do Decreto que os criava e permitia. Não se vai à Escola ou à Saúde privadas por vaidade, mas porque os Sistemas Públicos não funcionam. Dei-lhe exemplos, na comunicação anterior e não vou repetir-me para não ser maçador, mas os casos de mau atendimento são aos milhares e o nosso Povo sofre a "ditadura da mediocridade" que é quase tão má, segundo vejo, ouço e leio, como a "Dita Dura". Escolheu as grandes áreas em que uma Democracia a sério devia assentar e que são fundamentais para que, no seu funcionamento correcto, tornem os cidadãos mais iguais e felizes: a Educação, a Saúde e a Justiça. Mas olhe à sua volta e, creio-o, a "paisagem" é desoladora. Estão as Crianças e os Jovens portugueses a receber a Escola que precisam e merecem? Não, em meu entender. Ainda agora as famigeradas provas de aferição foram de uma "tristeza" incrível: professores tratados abaixo de cão pelas disparatadas exigências que eram feitas aos "aplicadores", quase como mentecaptos; crianças "avaliadas" como imbecis, pois as provas podiam ser resolvidas pelos alunos bem preparados do ano anterior, com resultados satisfatórios; uma despesa tremenda, sem resultados práticos - no fundo, as provas não servem para nada! - com desperdício de dinheiros públicos e um verdadeiro ataque ao ambiente - cada prova, em média, tinha 20 páginas e se o grupo tivesse 21 alunos, como vinham em pacotes de 10, lá iam nove exemplares para as"sobras"...
E os Doentes têm o acolhimento, a solicitude e o tratamento por que tanto anseiam? Não e não, pelo que vejo e sinto. E a Justiça? Ah! A Justiça, a justiça, tenho de a escrever com letra pequena... Só mais um pequeno episódio pessoal: a minha mulher, também professora, foi humilhada e ofendida dentro da própria sala de aula, por uma mãe. Decidimos levar o caso a tribunal. Sabe qual foi a nossa sorte? O Juiz estava casado com uma professora e "compreendeu" a situação, abrigando a queixosa no seu próprio gabinete para a livrar dos "desaforos" da ré. Impunemente! Mas isto é um pequeno "aperitivo" comparando-o com o que vai por aí. Quem, no seu perfeito juízo, leva uma ofensa a tribunal?
Outro dever do Estado que não referiu nas suas escolhas, a Segurança. Se alguém se quer sentir, com relativa "segurança", terá enormes encargos, sendo Privada ou Pública a pagar "por fora". O resto dos cidadãos encontra-se completamente indefeso, com destaque para os mais fracos, Crianças e Idosos, mas que nenhum pacato cidadão se arme em valente porque "quem se mete...com eles..leva". Sem remissão. E as actividades que deviam ser privadas, sobretudo no campo económico - pescas, agricultura, comércio, indústrias... - estão com cargas pesadíssimas. Saio da Escola, embora já com 65 anos, não pelas Crianças, não pelos Pais ou Trabalhadores docentes ou não docentes, mas porque estou cansado, cansado da burocracia. E garanto-lhe que todos os nossos impostos e encargos estão, religiosamente, pagos, em dia.
O director do Rádio Clube de Monsanto, Prof. Joaquim Fonseca e também nosso Colega, que faz o favor de ser meu Amigo, debate, às vezes, estas questões comigo, via internet. Agora anda a "desatinar-me" para uma conversa, a dois, pelas ondas hertzianas. Vou-lhe propor um "directo", agarrando a sua ideia, a 3 ou 4 ou 5... a partir da sua praia fluvial, lá na Meimoa. Ia ter muita piada...
Já chega, por hoje, que a sua bondade e paciência têm limites.
Abraço amigo do
António Serrano

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