sexta-feira, março 13, 2009

Ir a Aldeia...

Há que tempos eu não passeava pelas ruas da nossa Terra. A alegria de lá chegar, a tristeza de a deixar. Ali, sentimo-nos bem. E fazemos com que se ELES se sintam bem. Que pensamos neles. Que também amamos aquele pedaço do Mundo que nunca tiveram a coragem de deixar. Melhor dizendo: onde eles tiveram a coragem de ficar. Ou também de lá regressar. Para sempre.
Foram 4 dias que passaram num instante. Contando os da ida e do regresso. Verdadeiramente, só dois! O que vi, ouvi e senti não foi muito diferente das visitas já passadas. Cada vez mais velhos, cada vez menos gente. Quase sempre um funeral. Desta vez o do José Martins. Era eu miúdo quando lá apareceu com uma "carripana" "Morris", que tinha a particularidade de quase nunca pegar. De bateria nem pensar. Com a manivela... raras vezes. Há que tempos que isto foi. A garotada, eu que me incluía, aos montes ali no adro da igreja, era então convidada a empurrar até "aquilo" "pegar de esticão"! O que não era garantido, à partida, Se "aquilo" arrancava mesmo, no meio de fumarada, soluços e estrondos pouco comuns nos dias que correm, era uma alegria. O José Martins, na época um rapazão na casa dos vinte anos e tantos, nunca nos deixava ficar mal: atulhava a caixa fechada com os que lá cabiam (e mesmo que não coubessem havia sempre "espaço") e era boleia garantida. Uma festa para os "sortudos". Foi o primeiro "automóvel" particular em que "viajei". Ora, desde há dois dias, que "já lá está..." Como diz cada um daqueles idosos, talvez esperando não ser o próximo. Ou querendo ser???!!! Por "precaução", ainda se ouve rezar, como que a medo, "pelo primeiro dos presentes que faltar". "Cautela e caldos de galinha..." e/ou "homem prevenido vale por dois..." Ou por nenhum!
Os campos estão quase todos ao abandono e lá crescem os codeços, as giestas e as estevas. Os vastos pinhais e os enormes sobreirais, os castanheiros, os carvalhos... são quase só lembranças do passado. Os que o homem não cortou, "o inferno" os levou. A alegria da Primavera florida ainda não os cobre. Com más perspectivas, pois o Inverno foi perigosamente seco. O regato do Lavadouro não leva uma gota de água, completamente seco e não pude deliciar-me com o som da sua pequena cascata, que tanto me encantava, na minha longínqua infância. E este regato, a correr, em Março, é a justa medida de um Inverno capaz. Inquirindo de um vizinho, ali ao lado de um pouco de terra que por lá me restou, sobre o futuro da sua pequena horta, mesmo à beira do "Povo", lamentou-se de que o poço tinha pouca água. Uma desgraça nunca vem só: não há quem trabalhe a terra e aquele septuagenário esforçado não tinha água que compensasse o seu esforço. Em Março...
De dia, com num céu bem azul, o Sol aquecia a terra e as pessoas. As noites eram frescas e o aconchego da lareira soube-me a tempos que não mais voltarão.
De passagem por Penamacor, fui tomando conhecimento do "foguetório" a preparar-se para comemorar os 8º. centenário do foral dado ao nosso Concelho, "dado" por D. Sancho II. É giro celebrar os reis, no quase centenário da República. Não, não desdenho da História, mas acho "piada"...
Infelizmente, assumira compromissos muito longe dali e não poderei participar nas conferências levadas a cabo, amanhã, por gente de saber. Como ficaria contente de encontrar e ouvir o ilustre Coronel Dr. Pires Nunes, talvez a pessoa que mais sabe de castelos, em Portugal. Um grande Amigo do nosso Concelho. Aí comandou a extinta 1ª. Companhia Disciplinar, após o "25 de Abril". Um Homem de bem, de saber, de leal e nobre carácter.
Li de ponta a ponta o "livro" que se editou para comemorar o Centenário da nossa Banda, d"A União de Aldeia de João Pires". Confesso que fiquei decepcionado e desgostoso. Decepcionado porque 100 anos merecem muito mais e o Dr. Lopes Marcelo é capaz de tal tarefa. Perdôe-se-me a presunção de "avaliador", mas aquilo parece mais um TPC feito à pressa. Desgostoso porque, ou por espírito trapalhão - o até que se pode desculpar - ou por maldade, há um nome que, em meu entender, NUNCA poderia ser omitido, o do nosso pároco, Padre José Martins Gonçalves Pedro. Por muitas "cambalhotas" que depois tenha dado, fosse qual fosse o destino que quis para a sua vida, é inquestionável o impulso proporcionado à UNIÃO, que culminou na ampliação da sede, na instalação do Centro Paroquial Social - uma novidade para a época! - e do posto médico e na contratação do Mestre Carlos Osório - também quase omitido. Foi um período bem brilhante da nossa Banda, com a qual desfilei, vaidosamente, nos meus 19 anos, pelas avenidas de Castelo Branco. Foi também o então Padre Zé Pedro que, tendo a noção de que a Educação poderia libertar a nossa gente, dá um pontapé para a frente com a fundação do Colégio de Medelim. Apoiado por muitos amigos, congregando muitos esforços e boas vontades. Mas foi ele o "motor"! Conheço gente muito bem colocada na vida que passou por lá. A quem foi dada esssa oportunidade. Nunca o poderemos esquecer. E eu não fui disso beneficiado. Só com trabalho. Sei que as coisas depois não lhe "correram bem". Um espírito forte em carne fraca. Mas ninguém poderá apagar a sua passagem por essas Aldeias, por esse Concelho, por essa Região. Tenho orgulho de ter sido seu Amigo. De o ter sabido meu Amigo. E muito gostaria de lhe dar um abraço, onde quer que esteja... Se ainda viver. Oxalá que sim!
Levem lá estes dois "sons" fantásticos. Independentemente dos gostos...
Sim, eu sei que estamos na Quaresma, mas descobri esta "preciosidade... As "janeiras" com a música e letra com que eu as cantava:

2 comentários:

julietasenior disse...

Sr.Professor António Serrano:
No seu blogge dá-me conta de tanta tanta recordação !!!
"Ir à Aldeia"
"O nosso madeiro"
e,em particular, do que entre outras coisas,tão bem diz do meu Familiar e seu Amigo:
"nosso pároco, Padre José Martins Gonçalves Pedro"
" Foi também o então Padre Zé Pedro que, tendo a noção de que só a Educação poderia libertar a nossa gente, dá um pontapé para a frente com a fundação do Colégio de Medelim. Apoiado por muitos amigos, congregando muitos esforços e boas vontades. Mas foi ele o "motor"!... Tenho orgulho de ter sido seu Amigo. De o ter sabido meu Amigo. E muito gostaria de lhe dar um abraço, onde quer que esteja... Se ainda viver. Oxalá que sim!..."

Este seu Amigo que o Professor António Serrano se lembrou de recordar com palavras de apreço e carinho,antes de saber se ele ainda era vivo ou não...É também o meu irmão Zé, que faleceu em Leon Espanha no dia 27 de Janeiro de 2010.
Descansa no cemitério de Leon, onde repousa, desde 29 de Janeiro,em jazigo,no gavetão 86.
Foi acompanhado à sua última morada,- por alguns familiares e amigos de verdade.
Obrigada. Julieta

António Serrano disse...

Julieta,
Vai permitir que a trate como o fiz da última vez que a vi, há muitos anos? Tenho a certeza que me relevará tal atrevimento, pois senti pela vossa Família a estima e a ternura que só se têm na Juventude.
A sua notícia só não me "pegou" de surpresa porque, infelizmente, já me chegara, logo no dia 28. "As más novas correm depressa", diz a sabedoria popular. E assim a "novidade" chegou aqui a minha casa pura e dura. O que leu, escrito sem compromisso, ao "som" do que me ditava o coração, é prova do muito bem que quis ao seu irmão. Depois daquelas muito pobres frases, que não exprimem quase nada do muito que viveu nesse Homem e agora sei que descansa em Paz, tenho andado a pensar em lhe dedicar um "post" neste humilde blog. E tal ideia "atormenta-me" desde o passado dia 28. E "atormenta-me" porque receio que me falte "engenho e arte". O Padre José Martins Gonçalves Pedro que eu lembro é demasiado grande para as minhas fracas qualidades. Mas hei-de tentar. Depois logo se verá até que ponto a Amizade falou.
Pese a tristeza que me provocaram, gostei de ler as suas palavras, sobretudo porque me trouxeram notícias de uma pessoa admirável de uma Família a que quis muito bem.
Julieta, aqui lhe expresso o mais profundo pesar pela morte do meu Amigo e seu irmão. E vosso irmão. Por isso, abraço todos com igual sentimento.