segunda-feira, novembro 02, 2009

No Outono

Nas deslocações para a nossa Beira, sempre que a disponibilidade do tempo o permite, faço uma das viagens, pelo menos, usando a antiga estrada, a passar na Azervadinha e no Couço e daqui, com o "desvio" arranjado, ir logo à barragem de Montargil "fugindo" da antiga "obrigação" de passar por Mora. Aprecio muito este percurso e digo, na brincadeira, que a auto-estrada se compara a "frango de aviário", rápida, mas sem sabor, enquanto que esta viagem me "sabe" a "galinha do campo". Mais "dura", sem dúvida, mas com um "sabor" que me delicia,
Saio de Palmela, em direcção ao cruzamento do Infantado, passo no de Coruche, agora ambos com enormes e seguras rotundas. A seguir vêm a Azervadinha e o Couço. A estrada, ao longo da barragem, até Ponte de Sor, nesta altura do ano torna-se-me fascinante. A água ali tão perto. Bem pouca. O piso está uma "folha de papel" e os plátanos que vão escapando à fúria destruidora do homem estão lindos, com muitas folhas ainda bem verdes, passando pelo amarelo, o encarnado e o castanho de muitas outras. O plátano não é uma árvore bem querida. Emigrante, madeira de pouca utilidade, lenha manhosa, não dá flores nem frutos de que se conheça a utilidade. As suas raízes vão demasiado longe e "desertificam" os terrenos, em volta. No entanto, junto da estrada, a sombra suaviza as viagens durante os calores de Agosto, o verde vivo encanta-nos na Primavera e o multicolorido outonal enche-nos a alma de doces , digo melhor, indescritíveis sensações.
Mas há o reverso da medalha: esta viagem faz-me tomar contacto com uma nefasta realidade: os nossos melhores campos do fértil Ribatejo estão quase ao abandono. Não vi lavras, nem culturas, nem animais, nem pessoas, nem máquinas. Campos daquela natureza rica ... desprezados. A meio do caminho e já no Alentejo, decidi avançar pelas pequenas aldeias, a seguir a Ponte de Sor. Normalmente, faço o desvio pela Bemposta para apanhar a A23, em Abrantes. Pois as muitas hortas que havia no Vale de Arco, no Rosmaninhal. em S. Bartolomeu... estão a desaparecer. Os vendedores que, na beira da estrada, nos "ofereciam" os produtos lá produzidos, já escasseiam.
Depois, na nossa Beira, já todos sabemos o que está a acontecer, a desertificação, com abandono da maioria dos nossos campos. Os olivais apresentam-se carregados, com bom aspecto, mas sem que haja gente que queira recolher a azeitona. Apanhei uns baldes de "vermelhais" para as retalhar e "adoçar", o resto vai ficar ao abandono. Devia ser eu a colhê-las? Talvez, mas já não sinto forças nem motivação para tal. Os velhos não conseguem e os novos não querem.
Para onde caminhas, meu Portugal?

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