Saio de Palmela, em direcção ao cruzamento do Infantado, passo no de Coruche, agora ambos com enormes e seguras rotundas. A seguir vêm a Azervadinha e o Couço. A estrada, ao longo da barragem, até Ponte de Sor, nesta altura do ano torna-se-me fascinante. A água ali tão perto. Bem pouca. O piso está uma "folha de papel" e os plátanos que vão escapando à fúria destruidora do homem estão lindos, com muitas folhas ainda bem verdes, passando pelo amarelo, o encarnado e o castanho de muitas outras. O plátano não é uma árvore bem querida. Emigrante, madeira de pouca utilidade, lenha manhosa, não dá flores nem frutos de que se conheça a utilidade. As suas raízes vão demasiado longe e "desertificam" os terrenos, em volta. No entanto, junto da estrada, a sombra suaviza as viagens durante os calores de Agosto, o verde vivo encanta-nos na Primavera e o multicolorido outonal enche-nos a alma de doces , digo melhor, indescritíveis sensações.
Mas há o reverso da medalha: esta viagem faz-me tomar contacto com uma nefasta realidade: os nossos melhores campos do fértil Ribatejo estão quase ao abandono. Não vi lavras, nem culturas, nem animais, nem pessoas, nem máquinas. Campos daquela natureza rica ... desprezados. A meio do caminho e já no Alentejo, decidi avançar pelas pequenas aldeias, a seguir a Ponte de Sor. Normalmente, faço o desvio pela Bemposta para apanhar a A23, em Abrantes. Pois as muitas hortas que havia no Vale de Arco, no Rosmaninhal. em S. Bartolomeu... estão a desaparecer. Os vendedores que, na beira da estrada, nos "ofereciam" os produtos lá produzidos, já escasseiam.
Depois, na nossa Beira, já todos sabemos o que está a acontecer, a desertificação, com abandono da maioria dos nossos campos. Os olivais apresentam-se carregados, com bom aspecto, mas sem que haja gente que queira recolher a azeitona. Apanhei uns baldes de "vermelhais" para as retalhar e "adoçar", o resto vai ficar ao abandono. Devia ser eu a colhê-las? Talvez, mas já não sinto forças nem motivação para tal. Os velhos não conseguem e os novos não querem.
Para onde caminhas, meu Portugal?
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