Já nos meados dos anos 50, o estado de saúde do Padre José Maria Lopes Nogueira se agravara, a ponto de lhe ser fixada residência em Aldeia de João Pires, na nossa enorme casa paroquial, esta depois de muitos anos sem utilização de maior. O Padre José Maria andara por ali dezenas de anos – fundara a Banda, em 1908, fugira das iras republicanas e regressara, nos anos 20, para ficar até ao fim da vida terrena. Foi na nossa Aldeia que soltou o último suspiro e na ala central do nosso cemitério espera a ressurreição final, entre os paroquianos a quem se devotou.
Os tempos eram bem diferentes. A população das aldeias... muito densa. Os casais tinham vários filhos. Havia muitas crianças e muitos jovens e as dificuldades do dia-a-dia surgiam debaixo dos pés. A igreja, quase nova, após a reconstrução, em 1935, ficava sempre cheia, nas celebrações. Às vezes, sem capacidade de acolhimentos dos fiéis, sobretudo nas grandes festividades. As “turmas” de catequese – “vais à doutrina...”, como nos era dito – eram leccionadas, nos domingos, à tarde, para “desgosto” dos gaiatos, retirados durante uma hora, das suas brincadeiras, formando grupos repartidos pelos diversos cantos da igreja. Nem sei como era possível, mas funcionava. Não era uma catequese muito exigente no que tocava à aquisição de conhecimentos e à reflexão religiosa, mas apenas – e já não era pouco, dadas as condições de trabalho, a quantidade de catecúmenos e a “fraca” preparação dos catequistas – se cingia à memorização de fórmulas definidas pelo catecismo de S. Pio X: Credo, Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve Rainha, Bem-Aventuranças, Confissão, Acto de Contrição, Virtudes, Dons do Espírito Santo, Mandamentos da Lei de Deus… A segunda parte deste catecismo era composta de perguntas e respostas de memorização obrigatória para quem quisesse ser considerado bom cristão. Recordo agora que, num Congresso Eucarístico concelhio, em Penamacor, no dia 14 de Maio de 1954, tendo eu apenas 11 anos, fui escolhido para representar a nossa Catequese, numa sabatina de conhecimentos religiosos, lá no Terreiro de Santo António. Quando o meu nome foi chamado para defrontar uma menina do então Vale de Lobo, subindo para junto do altar, localizado na escadaria que dá acesso ao convento de Santo António, ao avistar aquela multidão e a ter de falar para um microfone que nunca vira antes, fiquei de tal modo assustado que apenas abri a boca para... gaguejar. E “levei uma banhada”… Durante muitos anos aquela situação foi-me deveras confrangedora...
Era, pois, um adolescente, quando ao jovem padre José Martins Gonçalves Pedro, foi entregue a responsabilidade pastoral de Aldeia do Bispo, primeiro, e de Aldeia de João Pires, pouco tempo depois, já que a idade e o estado de saúde do seu antecessor tornaram a assunção das duas paróquias como inevitável.
Muito jovem, bonito, alegre e simpático fazia uma grande diferença do tipo de padres a que estávamos habituados. Entre o “mulherio” aquilo foi um sucesso e não havia quem não gostasse do novo presbítero. A entrada foi, pois, como se costuma dizer, “em grande”. Com pequenos atritos pelo meio, pois os dias finais do velhinho e muito doente Padre José Maria não deixaram de levantar alguns problemas e imposições para que “morresse em paz” e “para salvação da sua alma”.
Coincidindo com o princípio dos meus estudos em Castelo Branco, as minhas recordações da instalação do Padre José Pedro são mais que vagas e limitam-se aos contactos esporádicos, nas férias escolares. Há que salientar, neste período, a celebração das “bodas de ouro” de “A UNIÃO de Aldeia de João Pires”, em 1958, cuja vertente mais importante era (e é) a existência e manutenção da Banda Filarmónica, momento bem alto na vida da Aldeia, pelos recursos disponibilizados e actividades realizadas. O Padre José Maria falecera, pouco antes, sendo evocada a sua memória e homenageado com o descerramento de uma placa no largo que, desde então, ostenta o seu nome. Mas que, por ironia do destino, continua a ser chamado de “largo do rato”…
O Padre José Pedro, homem de ideias largas e generosas, deve ter ficado chocado com a realidade que encontrou nas duas aldeias que o Bispo da Guarda lhe confiara. Excesso de população, falta de meios, muita pobreza e, sobretudo, um enorme grupo de crianças e jovens sem esperança nem futuro. Na melhor das hipóteses, poderiam aspirar a ser guarda, bombeiro, militar ou marinheiro de “tarimba”, polícia, costureira, criada de servir… Falhando as raras alternativas, trabalhar na terra dos outros, até que a morte libertadora aliviasse a situação de quase escravatura em que se vivia, seria a única saída. Sem direito a sonhar. O Prof. Teodósio, desde 1950, vinha dizendo aos pais dos mais atilados nas contas e nas leituras e escritas “Ponha-o a estudar…” “Mas como, senhor Professor? Não vê a nossa pobreza?” À parte um ou outro garoto que a família achasse que “tinha jeito para ser padre…” de Aldeia era impossível que uma Criança adquirisse cultura fora da escola primária. E, no tempo do P. José Maria, foram 4 os jovens que “cantaram Missa Nova”, na nossa igreja paroquial. E mais um 5º. recebeu a ordenação sacerdotal, pouco depois da sua morte, com “Missa Nova” em 1959. Portanto, a única preocupação, ao tempo, com a formação dos jovens seria para dar padres à Igreja. Mesmo esse grande Homem do nosso Concelho, o Prof. Dr. António Martins da Cruz – para quando a homenagem que lhe devemos? depois de morto… aí todos serão bons!!! – começou a sua libertação pelo… seminário!
Estava destinado que seria o Padre José Pedro a dar o pontapé na “má sorte” da nossa gente. O clero do Arciprestado, quase todo nascido na década de 20 ou antes, alguns dos seus membros até já vinham do séc. XIX, não mostrara, salvo raras excepções, grandes motivações para uma pastoral de promoção social das ovelhas dos seus rebanhos. Em Aldeia, a fundação de “A União” fora uma feliz excepção à regra quase generalizada. E esta "União" tinha mais a ver com a vertente cultural do que com a social. Que interagem na construção do Homem! Com a proximidade dos anos 60, em Aldeia do Bispo, nasceu, de forma incipiente, o Colégio de S. Bartolomeu. Sem edifício próprio nem quaisquer estruturas. Não as havia. Davam-se aulas nas próprias casas de residência ou alugaram-se e emprestaram-se salas para o efeito. No ano lectivo de 1958-59, havia já umas dezenas de alunos, numa mescla bastante heterogénea de idades e proveniências, que, sob a batuta do jovem padre, em trabalho conjunto com o Prof. Joaquim Landeiro, o “Pardalito”, um “perseguido” da ditadura, iam preparando, sobretudo para os exames do 2º e 5º anos – nas duas secções – aqueles que, na generalidade, muito dificilmente se libertariam da “escravidão” em que haviam nascido. A vontade de vencer os obstáculos era muito forte e assim havia de ser. Os mais ricos começaram a ficar alarmados e as más vontades surgiram de muitos lados. Com queixas para todos com razão ou sem ela. Para o próprio bispo da Guarda. Uma rivalidade desenfreada com o Colégio de Nossa Senhora do Incenso, em Penamacor. Dois padres, à frente de dois projectos, com o mesmo objectivo. Só que os destinatários bem diferentes: para o da Vila iriam os filhos da pequena burguesia e servidores da sede de concelho e arredores; para o de S. Bartolomeu os dos camponeses, assalariados e pequenos burgueses das freguesias rurais. Houve truques e atitudes, por palavras e por obras, que ficariam muito mal em qualquer um e muito mais em pessoas que foram preparadas para anunciar e espalhar o Amor de Deus.
Mas a obra do Padre José Pedro não podia ficar só pelo Colégio. Que, aliás, tinha de ter uma entidade que o “suportasse” nas condições mais favoráveis. Assim, nasceram o Centro Paroquial de Assistência e Formação Social de Aldeia do Bispo e o Centro Paroquial de Assistência e Formação Social de Aldeia de João Pires. Com médico e consultas. Com enfermagem e tratamentos. Uma novidade, na época e na região. Aldeia do Bispo, como pólo de desenvolvimento do Sul do Concelho, é dotada com uma farmácia e um farmacêutico, que criou postos de farmácia no Salvador e no Pedrógão, um alto benefício para as populações que, antes, até por uma aspirina tinham de deslocar-se a Penamacor. Não devo andar longe da verdade se disser que, à sombra destas iniciativas e de outras, a região conheceu o período mais próspero da sua existência, que viria a "descambar" com a emigração e a guerra colonial.
O ano de 1961 foi decisivo para o projecto do nosso sacerdote. Pela força das circunstâncias, o Colégio teve de mudar de concelho, mesmo no limite, para Medelim, com o nome de Colégio de Nosso Senhor do Calvário. Com ajuda de pessoas generosas, destacando-se o Dr. António Martins da Cruz e a Família Pires Marques. Compraram-se carrinhas – numa imaginei que uma carrinha VW de 9 lugares pudesse levar tanta gente! – e depois dois autocarros, que faziam chegar a Medelim, todas as manhãs, crianças, adolescentes e jovens vindos desde a Benquerença e Penha Garcia, até Idanha e S. Miguel d’Acha. Uma coisa nunca vista nem esperada. Desta cruzada saíram muitos com novas perspectivas de vida e puderam ser professores, educadoras, enfermeiros, engenheiros, juízes, advogados, médicos... Muitos outros se juntaram para que o projecto vingasse, mas o “motor”, o cérebro, a força esteve no Padre José Martins Gonçalves Pedro. E isto, por muitas voltas que o Mundo tivesse dado depois, é que nunca poderá ser esquecido. Por ninguém, especialmente pelos beneficiados.
Exactamente em Outubro de 1961, com 18 anos, fui colocado na Escola Masculina de Aldeia do Bispo, ao tempo com 5 professores e perto de 150 alunos. Assim, tive ocasião de conhecer relativamente bem o Padre Pedro e alguns dos seus familiares. Um autêntico “furacão” na vida daquelas terras e das nossas gentes. Querido pela maior parte. Mas inimigos não lhe faltaram.
Tinha uma visão diferente e progressista do que era estar à frente de duas paróquias, com pessoas ultra-conservadoras e resistentes a qualquer mudança. Embora se vivessem tempos de Concílio, de João XXIII e de “Pacem in terris”. Este sacerdote vivia uma perspectiva inovadora – revolucionária? – das coisas, das pessoas, da Doutrina e da própria Igreja. Também de Jesus Cristo. Muito aprendi com ele. Embora não gostasse da maneira como ele conduzia o “Ford Anglia Fascinante”, primeiro, e o Mercedes depois. Sempre apressado, entrava “a matar”, na curva do lagar para virar para a igreja. Quantas galinhas foram vítimas das suas pressas. Só ELE era capaz de fazer abrir um corredor, em tempo “record”, entre os bêbedos e sóbrios que “estacionavam”, na estrada, frente às tabernas do Ti Fatela e do Ti Chico Miguel, em Aldeia do Bispo, nos domingos à tarde.
Nas aldeias, as 3 “autoridades” eram o padre, o regedor e o professor. Nunca cheguei a sê-lo, pois era um novato, enquanto andei pelas aldeias. E na cidade já a “música” era outra…
Não foi difícil, porém, tornar-me amigo do Padre Pedro. Nem posso dizer que, da sua parte, houvesse a correspondente amizade para comigo. Não era homem para isso. Estava acima de nós. Talvez sentisse por mim alguma estima e a certeza de que me encontraria disponível para colaborar com ele, lealmente e sem encargo, em qualquer missão me entregasse.
O Centro Paroquial fora criado e havia que instalá-lo. A Banda estava “de rastos” e era preciso reerguê-la. Sob a sua batuta, na sede de “A União” foram executadas obras de vulto, de forma a dotá-la com um 1º. andar. Para servir de nova sede. O rés-do-chão ficou ao serviço do Centro. Pela primeira vez um edifício do Povo, na nossa Aldeia, teve instalações sanitárias ao alcance de todos.
A vinda do Mestre Carlos Osório fez a Banda conhecer respeito e fama até antes nunca imaginados. Acontecer a publicação de um jornal, mensalmente, em meios tão pequenos? Pois, sim, tivemos o “Aldeias Unidas”, impresso lá na tipografia, em Aldeia do Bispo. Com informação e formação.
Nos seus 30 anos, admirei-o como homem e como padre. Por sua causa, eu também quis ser padre. Um segredo só de poucos mais que nós dois. “Já falei ao Senhor Bispo para se estudar a sua entrada no seminário maior, considerando a sua idade e habilitações” – disse-me numa tarde de cavaqueira e gargalhadas, ambos sentados no "Anglia". Sim, com ele aprendi as primeiras anedotas que metiam freiras. Ou padres. “Estranho” que fosse uma aluna do Colégio, "descoberta" pelo próprio Padre Pedro, que me fez mudar de ideias. Até hoje. Graças a Deus!
“A democracia barrocal” – assim classificou o povo de Aldeia do Bispo, quando discutimos a maneira de ser dos seus paroquianos de lá e de cá: era mais estimado em AJP, mas ele preferia a maneira menos subserviente e indócil dos “tchendros”. Com desgosto meu. Hoje compreendo-o melhor! “Os bispos portugueses traíram o Santo Padre”, proclamou do arco da igreja, por ocasião da ida de Paulo VI ao Congresso Eucarístico de Bombaim, de 2 a 5 de Dezembro de 1964. Era a segunda vez que um Papa saía da Europa, em 2000 anos - na primeira, também em 1964, Paulo VI fora à Terra Santa – e o P. José Pedro dera-se conta que a comunicação social portuguesa, por força da Censura, ocultara um facto que fora grande notícia em todo o Mundo livre. E o episcopado nacional “agachara-se” perante a fúria de Salazar, ainda a remoer a “queda” recente de Goa, Damão e Diu. Aquele Papa viria a Fátima, em Maio de 1967. “O sacristão de Lavacolhos”, troçava, sem qualquer caridade cristã, de um outro padre do nosso Concelho também metido em “sarilhos” de colégio. “Tenho vontade de lhe negar a comunhão”, acerca de uma senhora latifundiária que tinha varandim privativo na igreja paroquial… “Deixe lá, somos as maiores cabeças do Concelho…”, “consolava”-me pelo meu relato da dificuldade em encontrar chapéu que me servisse… Não cabem neste espaço as muitas memórias que tenho deste homem que aqui recordo e que apenas quero homenagear de maneira simples e bem sentida. Quase todas boas lembranças.
Ao fim de quatro anos, com a minha ida para o serviço militar e mobilização para o Ultramar, perdi o contacto com o Padre Pedro e com a sua Família. Estimei-os, de verdade. Algumas vezes, almocei com o Padre José Pedro, em sua casa, pois só na hora do almoço tinha algum “espaço” para lhe dar conta das obras do Centro Paroquial e das necessidades a que urgia responder. Quase sempre dinheiro. Que escasseava, como hoje! Os Pais eram uma doçura, o Senhor Jerónimo, a D. Maria Adelaide. Os irmãos Augusto, Julieta, António. Também a mais velha que pouco vi e de quem não fixei o nome. Com pena.
“Ai este filho, este filho! Nunca pára! Aquela cabeça nunca descansa”- ainda ouvi de uma Mãe, notando-lhe, na voz meiga e serena, um misto de orgulho e ansiedade. Ansiedade, sim. O coração de mãe nunca se engana. Adivinha tudo!
Por ocasião dos 100 anos da Banda, aqui descrevi a decepção que senti porque este Homem grande e frágil não foi então lembrado. Em meu entender, uma injustiça, pois a obra que fez entre nós muito o justificava. Não quiseram! “Malhas que o império tece…” ou a “memória dos homens é curta”?
Exactamente no dia seguinte ao da sua morte, em 27 de Janeiro passado, por um daqueles imprevistos inexplicáveis, soube que descansava, enfim, lá em Leon, fora do seu País e das suas terras. Do Sabugal, onde nascera. Das “Aldeias Unidas”, como ele as quis e engrandeceu. Na honra e no proveito.
Curioso! Não lhe devendo nada de material, sinto que lhe ficarei a dever muito na minha certeza de continuar a ser cristão. A minha maior riqueza.
Os tempos eram bem diferentes. A população das aldeias... muito densa. Os casais tinham vários filhos. Havia muitas crianças e muitos jovens e as dificuldades do dia-a-dia surgiam debaixo dos pés. A igreja, quase nova, após a reconstrução, em 1935, ficava sempre cheia, nas celebrações. Às vezes, sem capacidade de acolhimentos dos fiéis, sobretudo nas grandes festividades. As “turmas” de catequese – “vais à doutrina...”, como nos era dito – eram leccionadas, nos domingos, à tarde, para “desgosto” dos gaiatos, retirados durante uma hora, das suas brincadeiras, formando grupos repartidos pelos diversos cantos da igreja. Nem sei como era possível, mas funcionava. Não era uma catequese muito exigente no que tocava à aquisição de conhecimentos e à reflexão religiosa, mas apenas – e já não era pouco, dadas as condições de trabalho, a quantidade de catecúmenos e a “fraca” preparação dos catequistas – se cingia à memorização de fórmulas definidas pelo catecismo de S. Pio X: Credo, Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve Rainha, Bem-Aventuranças, Confissão, Acto de Contrição, Virtudes, Dons do Espírito Santo, Mandamentos da Lei de Deus… A segunda parte deste catecismo era composta de perguntas e respostas de memorização obrigatória para quem quisesse ser considerado bom cristão. Recordo agora que, num Congresso Eucarístico concelhio, em Penamacor, no dia 14 de Maio de 1954, tendo eu apenas 11 anos, fui escolhido para representar a nossa Catequese, numa sabatina de conhecimentos religiosos, lá no Terreiro de Santo António. Quando o meu nome foi chamado para defrontar uma menina do então Vale de Lobo, subindo para junto do altar, localizado na escadaria que dá acesso ao convento de Santo António, ao avistar aquela multidão e a ter de falar para um microfone que nunca vira antes, fiquei de tal modo assustado que apenas abri a boca para... gaguejar. E “levei uma banhada”… Durante muitos anos aquela situação foi-me deveras confrangedora...
Era, pois, um adolescente, quando ao jovem padre José Martins Gonçalves Pedro, foi entregue a responsabilidade pastoral de Aldeia do Bispo, primeiro, e de Aldeia de João Pires, pouco tempo depois, já que a idade e o estado de saúde do seu antecessor tornaram a assunção das duas paróquias como inevitável.
Muito jovem, bonito, alegre e simpático fazia uma grande diferença do tipo de padres a que estávamos habituados. Entre o “mulherio” aquilo foi um sucesso e não havia quem não gostasse do novo presbítero. A entrada foi, pois, como se costuma dizer, “em grande”. Com pequenos atritos pelo meio, pois os dias finais do velhinho e muito doente Padre José Maria não deixaram de levantar alguns problemas e imposições para que “morresse em paz” e “para salvação da sua alma”.
Coincidindo com o princípio dos meus estudos em Castelo Branco, as minhas recordações da instalação do Padre José Pedro são mais que vagas e limitam-se aos contactos esporádicos, nas férias escolares. Há que salientar, neste período, a celebração das “bodas de ouro” de “A UNIÃO de Aldeia de João Pires”, em 1958, cuja vertente mais importante era (e é) a existência e manutenção da Banda Filarmónica, momento bem alto na vida da Aldeia, pelos recursos disponibilizados e actividades realizadas. O Padre José Maria falecera, pouco antes, sendo evocada a sua memória e homenageado com o descerramento de uma placa no largo que, desde então, ostenta o seu nome. Mas que, por ironia do destino, continua a ser chamado de “largo do rato”…
O Padre José Pedro, homem de ideias largas e generosas, deve ter ficado chocado com a realidade que encontrou nas duas aldeias que o Bispo da Guarda lhe confiara. Excesso de população, falta de meios, muita pobreza e, sobretudo, um enorme grupo de crianças e jovens sem esperança nem futuro. Na melhor das hipóteses, poderiam aspirar a ser guarda, bombeiro, militar ou marinheiro de “tarimba”, polícia, costureira, criada de servir… Falhando as raras alternativas, trabalhar na terra dos outros, até que a morte libertadora aliviasse a situação de quase escravatura em que se vivia, seria a única saída. Sem direito a sonhar. O Prof. Teodósio, desde 1950, vinha dizendo aos pais dos mais atilados nas contas e nas leituras e escritas “Ponha-o a estudar…” “Mas como, senhor Professor? Não vê a nossa pobreza?” À parte um ou outro garoto que a família achasse que “tinha jeito para ser padre…” de Aldeia era impossível que uma Criança adquirisse cultura fora da escola primária. E, no tempo do P. José Maria, foram 4 os jovens que “cantaram Missa Nova”, na nossa igreja paroquial. E mais um 5º. recebeu a ordenação sacerdotal, pouco depois da sua morte, com “Missa Nova” em 1959. Portanto, a única preocupação, ao tempo, com a formação dos jovens seria para dar padres à Igreja. Mesmo esse grande Homem do nosso Concelho, o Prof. Dr. António Martins da Cruz – para quando a homenagem que lhe devemos? depois de morto… aí todos serão bons!!! – começou a sua libertação pelo… seminário!
Estava destinado que seria o Padre José Pedro a dar o pontapé na “má sorte” da nossa gente. O clero do Arciprestado, quase todo nascido na década de 20 ou antes, alguns dos seus membros até já vinham do séc. XIX, não mostrara, salvo raras excepções, grandes motivações para uma pastoral de promoção social das ovelhas dos seus rebanhos. Em Aldeia, a fundação de “A União” fora uma feliz excepção à regra quase generalizada. E esta "União" tinha mais a ver com a vertente cultural do que com a social. Que interagem na construção do Homem! Com a proximidade dos anos 60, em Aldeia do Bispo, nasceu, de forma incipiente, o Colégio de S. Bartolomeu. Sem edifício próprio nem quaisquer estruturas. Não as havia. Davam-se aulas nas próprias casas de residência ou alugaram-se e emprestaram-se salas para o efeito. No ano lectivo de 1958-59, havia já umas dezenas de alunos, numa mescla bastante heterogénea de idades e proveniências, que, sob a batuta do jovem padre, em trabalho conjunto com o Prof. Joaquim Landeiro, o “Pardalito”, um “perseguido” da ditadura, iam preparando, sobretudo para os exames do 2º e 5º anos – nas duas secções – aqueles que, na generalidade, muito dificilmente se libertariam da “escravidão” em que haviam nascido. A vontade de vencer os obstáculos era muito forte e assim havia de ser. Os mais ricos começaram a ficar alarmados e as más vontades surgiram de muitos lados. Com queixas para todos com razão ou sem ela. Para o próprio bispo da Guarda. Uma rivalidade desenfreada com o Colégio de Nossa Senhora do Incenso, em Penamacor. Dois padres, à frente de dois projectos, com o mesmo objectivo. Só que os destinatários bem diferentes: para o da Vila iriam os filhos da pequena burguesia e servidores da sede de concelho e arredores; para o de S. Bartolomeu os dos camponeses, assalariados e pequenos burgueses das freguesias rurais. Houve truques e atitudes, por palavras e por obras, que ficariam muito mal em qualquer um e muito mais em pessoas que foram preparadas para anunciar e espalhar o Amor de Deus.
Mas a obra do Padre José Pedro não podia ficar só pelo Colégio. Que, aliás, tinha de ter uma entidade que o “suportasse” nas condições mais favoráveis. Assim, nasceram o Centro Paroquial de Assistência e Formação Social de Aldeia do Bispo e o Centro Paroquial de Assistência e Formação Social de Aldeia de João Pires. Com médico e consultas. Com enfermagem e tratamentos. Uma novidade, na época e na região. Aldeia do Bispo, como pólo de desenvolvimento do Sul do Concelho, é dotada com uma farmácia e um farmacêutico, que criou postos de farmácia no Salvador e no Pedrógão, um alto benefício para as populações que, antes, até por uma aspirina tinham de deslocar-se a Penamacor. Não devo andar longe da verdade se disser que, à sombra destas iniciativas e de outras, a região conheceu o período mais próspero da sua existência, que viria a "descambar" com a emigração e a guerra colonial.
O ano de 1961 foi decisivo para o projecto do nosso sacerdote. Pela força das circunstâncias, o Colégio teve de mudar de concelho, mesmo no limite, para Medelim, com o nome de Colégio de Nosso Senhor do Calvário. Com ajuda de pessoas generosas, destacando-se o Dr. António Martins da Cruz e a Família Pires Marques. Compraram-se carrinhas – numa imaginei que uma carrinha VW de 9 lugares pudesse levar tanta gente! – e depois dois autocarros, que faziam chegar a Medelim, todas as manhãs, crianças, adolescentes e jovens vindos desde a Benquerença e Penha Garcia, até Idanha e S. Miguel d’Acha. Uma coisa nunca vista nem esperada. Desta cruzada saíram muitos com novas perspectivas de vida e puderam ser professores, educadoras, enfermeiros, engenheiros, juízes, advogados, médicos... Muitos outros se juntaram para que o projecto vingasse, mas o “motor”, o cérebro, a força esteve no Padre José Martins Gonçalves Pedro. E isto, por muitas voltas que o Mundo tivesse dado depois, é que nunca poderá ser esquecido. Por ninguém, especialmente pelos beneficiados.
Exactamente em Outubro de 1961, com 18 anos, fui colocado na Escola Masculina de Aldeia do Bispo, ao tempo com 5 professores e perto de 150 alunos. Assim, tive ocasião de conhecer relativamente bem o Padre Pedro e alguns dos seus familiares. Um autêntico “furacão” na vida daquelas terras e das nossas gentes. Querido pela maior parte. Mas inimigos não lhe faltaram.
Tinha uma visão diferente e progressista do que era estar à frente de duas paróquias, com pessoas ultra-conservadoras e resistentes a qualquer mudança. Embora se vivessem tempos de Concílio, de João XXIII e de “Pacem in terris”. Este sacerdote vivia uma perspectiva inovadora – revolucionária? – das coisas, das pessoas, da Doutrina e da própria Igreja. Também de Jesus Cristo. Muito aprendi com ele. Embora não gostasse da maneira como ele conduzia o “Ford Anglia Fascinante”, primeiro, e o Mercedes depois. Sempre apressado, entrava “a matar”, na curva do lagar para virar para a igreja. Quantas galinhas foram vítimas das suas pressas. Só ELE era capaz de fazer abrir um corredor, em tempo “record”, entre os bêbedos e sóbrios que “estacionavam”, na estrada, frente às tabernas do Ti Fatela e do Ti Chico Miguel, em Aldeia do Bispo, nos domingos à tarde.
Nas aldeias, as 3 “autoridades” eram o padre, o regedor e o professor. Nunca cheguei a sê-lo, pois era um novato, enquanto andei pelas aldeias. E na cidade já a “música” era outra…
Não foi difícil, porém, tornar-me amigo do Padre Pedro. Nem posso dizer que, da sua parte, houvesse a correspondente amizade para comigo. Não era homem para isso. Estava acima de nós. Talvez sentisse por mim alguma estima e a certeza de que me encontraria disponível para colaborar com ele, lealmente e sem encargo, em qualquer missão me entregasse.
O Centro Paroquial fora criado e havia que instalá-lo. A Banda estava “de rastos” e era preciso reerguê-la. Sob a sua batuta, na sede de “A União” foram executadas obras de vulto, de forma a dotá-la com um 1º. andar. Para servir de nova sede. O rés-do-chão ficou ao serviço do Centro. Pela primeira vez um edifício do Povo, na nossa Aldeia, teve instalações sanitárias ao alcance de todos.
A vinda do Mestre Carlos Osório fez a Banda conhecer respeito e fama até antes nunca imaginados. Acontecer a publicação de um jornal, mensalmente, em meios tão pequenos? Pois, sim, tivemos o “Aldeias Unidas”, impresso lá na tipografia, em Aldeia do Bispo. Com informação e formação.
Nos seus 30 anos, admirei-o como homem e como padre. Por sua causa, eu também quis ser padre. Um segredo só de poucos mais que nós dois. “Já falei ao Senhor Bispo para se estudar a sua entrada no seminário maior, considerando a sua idade e habilitações” – disse-me numa tarde de cavaqueira e gargalhadas, ambos sentados no "Anglia". Sim, com ele aprendi as primeiras anedotas que metiam freiras. Ou padres. “Estranho” que fosse uma aluna do Colégio, "descoberta" pelo próprio Padre Pedro, que me fez mudar de ideias. Até hoje. Graças a Deus!
“A democracia barrocal” – assim classificou o povo de Aldeia do Bispo, quando discutimos a maneira de ser dos seus paroquianos de lá e de cá: era mais estimado em AJP, mas ele preferia a maneira menos subserviente e indócil dos “tchendros”. Com desgosto meu. Hoje compreendo-o melhor! “Os bispos portugueses traíram o Santo Padre”, proclamou do arco da igreja, por ocasião da ida de Paulo VI ao Congresso Eucarístico de Bombaim, de 2 a 5 de Dezembro de 1964. Era a segunda vez que um Papa saía da Europa, em 2000 anos - na primeira, também em 1964, Paulo VI fora à Terra Santa – e o P. José Pedro dera-se conta que a comunicação social portuguesa, por força da Censura, ocultara um facto que fora grande notícia em todo o Mundo livre. E o episcopado nacional “agachara-se” perante a fúria de Salazar, ainda a remoer a “queda” recente de Goa, Damão e Diu. Aquele Papa viria a Fátima, em Maio de 1967. “O sacristão de Lavacolhos”, troçava, sem qualquer caridade cristã, de um outro padre do nosso Concelho também metido em “sarilhos” de colégio. “Tenho vontade de lhe negar a comunhão”, acerca de uma senhora latifundiária que tinha varandim privativo na igreja paroquial… “Deixe lá, somos as maiores cabeças do Concelho…”, “consolava”-me pelo meu relato da dificuldade em encontrar chapéu que me servisse… Não cabem neste espaço as muitas memórias que tenho deste homem que aqui recordo e que apenas quero homenagear de maneira simples e bem sentida. Quase todas boas lembranças.
Ao fim de quatro anos, com a minha ida para o serviço militar e mobilização para o Ultramar, perdi o contacto com o Padre Pedro e com a sua Família. Estimei-os, de verdade. Algumas vezes, almocei com o Padre José Pedro, em sua casa, pois só na hora do almoço tinha algum “espaço” para lhe dar conta das obras do Centro Paroquial e das necessidades a que urgia responder. Quase sempre dinheiro. Que escasseava, como hoje! Os Pais eram uma doçura, o Senhor Jerónimo, a D. Maria Adelaide. Os irmãos Augusto, Julieta, António. Também a mais velha que pouco vi e de quem não fixei o nome. Com pena.
“Ai este filho, este filho! Nunca pára! Aquela cabeça nunca descansa”- ainda ouvi de uma Mãe, notando-lhe, na voz meiga e serena, um misto de orgulho e ansiedade. Ansiedade, sim. O coração de mãe nunca se engana. Adivinha tudo!
Por ocasião dos 100 anos da Banda, aqui descrevi a decepção que senti porque este Homem grande e frágil não foi então lembrado. Em meu entender, uma injustiça, pois a obra que fez entre nós muito o justificava. Não quiseram! “Malhas que o império tece…” ou a “memória dos homens é curta”?
Exactamente no dia seguinte ao da sua morte, em 27 de Janeiro passado, por um daqueles imprevistos inexplicáveis, soube que descansava, enfim, lá em Leon, fora do seu País e das suas terras. Do Sabugal, onde nascera. Das “Aldeias Unidas”, como ele as quis e engrandeceu. Na honra e no proveito.
Curioso! Não lhe devendo nada de material, sinto que lhe ficarei a dever muito na minha certeza de continuar a ser cristão. A minha maior riqueza.
Obrigado, Padre José Pedro. Nunca o esqueci. Agora sei que nunca o esquecerei. Um destes dias vamos encontrar-nos. Desta vez será para sempre.
10 comentários:
Boa noite,
Gostei bastante desta publicação no seu blogue, no entanto, fiquei com alguma curiosidade sobre o Padre José Maria Lopes Nogueira. Seria possível providenciar-me algumas informações sobre ele?
Obrigado! :)
Kin,
Obrigado pelo seu comentário. Julgo poder fornecer-lhe alguma informação sobre o padre José Maria Lopes Nogueira, que casou os meus Pais e me batizou e a quem conheci, pessoalmente, na minha infância e adolescência. Por entre os muitos livros que tenho, penso que há essa informação... para além daquela que "vive" na minha memória.
Kin.
Tenho a informação que pretende. Como lha faço chegar?
Prezado senhor
António Serrano
Por casualidade e porque sou elemento de um Coro, chamado Intermezzo, da cidade do Fundão, aquando da nossa exibição numa aldeia que foi também paroquiada e onde também fundou uma Banda Filarmónica, esse meu ilustre conterrâneo e elemento da minha família Padre Zé Maria, fiquei a saber que ele foi um monárquico de gema e que aí teria inclusivamente colocado a bandeira na torre da Igreja, o que para os Republicanos isso foi uma afronta e ele teve de fugir daí. Peço-lhe por favor se me autoriza a publicação da foto que julgo ser dele, numa notícia que gostaria de fazer sobre VALVERDE, sua terra natal. Muito obrigado.
José Ramos Freire, a fotografia não é do padre José Maria Lopes Nogueira, mas do padre José Martins Gonçalves Pedro, que lhe sucedeu. No entanto, em Aldeia de João Pires, temos fotografias do padre José Maria e, com tempo, é possível fazer-lha chegar. Vivo longe e só conto ir lá daqui a um mês. Se lhe calhar passar por lá será fácil procurar no Centro Social Paroquial, que lhe dará acesso ao museu, onde a foto existe. Mas vou pesquisar na internet...
Obrigado pelo artigo.
Permita-me completar. O Catecismo de S. Pio X está organizado em perguntas e repostas, e de forma já por si explicativa. Quem o tenha na memória, tem já a explicação de todos os conteúdos da Fé.
Se o Pe. José Maria Lopes Nogueira, e outros, queriam o catecismo memorizado (que é essa a didática então desejada pela Santa Sé, por ser mais segura, objectiva, e universal) é porque havia condições para tal. Em alguns locais mais carenciados de doutrinação, as crianças não podiam sequer memorizar o catecismo (que ainda é um significativo número de páginas - tanto o chamado "catecismo menor de S. Pio X", como o "catecismo maior de S. Pio X"). Os costumes, a moral social, eram nesse tempo tão iguais ao catolicismo que não havia grande necessidade de explicar o que sempre se deu por certo e era o "ar" que se respirava. Nesse tempo deveriam ser poucas as aldeias, vilas e até cidades onde o Catecismo de S. Pio X era aplicado, ou aplicado da forma adequada como na Aldeia de João Pires. Basta lembrar que S. Pio X só é eleito Papa em 1903, e que o seu catecismo terá em Portugal sido publicado pouco antes da sua morte (1914); esta este o catecismo exigido depois nos seminários menores, o que faz supor que as paróquias não unanimemente o usassem todas, ou não o usassem todas pelo método de memorização antes da idade de 10 anos (idade mínima com a qual se entrava nos seminários menores). Em suma, se o Pe. José Maria Lopes Nogueira usava já devidamente em suas paróquias o dito catecismo, é um sinal tremendamente positivo, e atestará a preocupação bem orientada a respeito da formação fundamental das suas ovelhas.
Tenho um pedido que lhe faço, e que vai ao encontro do interesse manifestado do Sr. José Ramos Freire (a quem conheço): por favor, adicione ao artigo algumas fotos do Pe. José Maria Lopes Nogueira, tio da minha avó. Isto não só honrará o artigo, como fará corresponder muito mais as intervenções que aqui lhe fazemos vários em caixa de mensagem.
Na certeza da sua melhor disposição, não duvidando que consiga a digitalização de ditas fotos, agradecido que lhe estou já do belo artigo, aguardo com toda a simpatia o tempo necessário. Desde já, muito obrigado.
Pedro Oliveira.
Caro senhor António Serrano,
Agradeço-lhe a generosidade em partilhar as suas memórias do padre Zé Maria.
Ele foi pároco na freguesia de Bogas de Baixo, a aldeia dos meus avós, cerca de 10 anos (entre 1914 e 1924, julgo eu). Interessar-me-ia saber mais algumas informações sobre esta personalidade, caso consiga fornecê-las, ou alguma fotografia. Ficar-lhe-ia muito grato.
Cumprimentos,
André Gonçalves
Caro André Gonçalves,
Nos FBs da minha Aldeia há fotos do Padre José Maria. Também informação diversa. Julgo que estou em condições de lhe fornecer informações, mas vá pesquisando nas diversas páginas FB de Aldeia de João Pires: Banda, Centro de Dia, Museu, Centro de Dia, Paróquia...
Abraço cordial.
António Serrano
Obrigado caro António Serrano,
Já procurei, mas infelizmente ainda nada encontrei. Irei continuar à procura. Se tiver algo em sua posse, e tiver a amabilidade, deixo-lhe o meu endereço de email para partilha: asamuelmg@gmail.com.
Obrigado e cumprimentos,
André Gonçalves
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