terça-feira, abril 21, 2009

Meu Filho, parabéns!!!


Era Domingo, 20 de Abril. A Páscoa festejara-se duas semanas antes. Vivíamos e trabalhávamos em Penamacor e, como de costume, visitávamos as nossas Famílias, nas Águas e em Aldeia. A tua Mãe, linda e esplendorosa, nos seus 22 anos, uma "brasa", digo-te, andava um tanto atrapalhada com a enorme barriga onde tu te divertias, dando voltas sobre voltas, traquinas e desenrascado - hoje, a palavra da moda com que os americanos querem "enriquecer" a língua inglesa. "Não me sinto bem; estou quase sem forças", dizia-me ela, com alguma angústia. "Vou ficar por aqui, na companhia da minha mãe". A tua avó materna. A gravidez fora inesperada - a tua irmã ainda tão pequenina e a "dar-nos água pela barba" - mas foste aceite, desde o momento da tua concepção. E sabíamos que estava a chegar ao fim. Era muito difícil a nossa vida, mas tínhamos tanta esperança e tantos sonhos!!! Tu passaste a fazer parte deles. Mas vamos ao que interessa. Já era noite, quando regressámos a casa - a tua Mãe decidira que nascerias na nossa casa e combinara tudo com uma parteira, de Alcains. Não havia telefones, muito menos telemóveis, uma palavra e um objecto desconhecidos, ainda por inventar. Tudo combinado: se houvesse sinais de que nascerias nessa noite, meter-me-ia no carro, ia até às Águas - por acaso tua avó tinha o telefone público, ligava-se à parteira, levava a tua avó para junto da tua Mãe e ficávamos entregues nas mãos de Deus. "Será menino ou menina?" Por incrível que pareça, há 40 anos nascia-se sem se saber "o que era"... Cerca da uma da manhã do dia 21, lá estava eu "D. Clara, D. Clara, está na hora!" "Como está a minha filha?" "Está com as dores... Ah! Deixe-me telefonar à parteira e vamos!"
Passava pouco das duas da manhã quando ela apareceu. Nariz empinado. sabichona. "Oh! Isto ainda está muito atrasado. E logo agora que tenho outro parto lá nos Escalos. Dou-lhe uma injecção para atrasar, pois lá devo demorar pouco..." Injecção dada e "ala que se faz tarde!" Regressou a passar das cinco. Cheia de pressa. Agora vão duas injecções para despachar. Eram umas seis e meia e soltas o teu primeiro protesto contra este mundo. "É um menino!!!" E tu a gritar "Aqui estou! Podem contar comigo!" Uma grande alegria, uma enorme dádiva do bom Deus. Eu, com 26 anos e a tua mãe, tão jovem, com um casalinho, nada mau. Antes... "cinco estrelas"!
Não foi fácil aquele teu primeiro dia para a tua Mãe. As drogas contraditórias que lhe enfiaram no corpo tiveram um efeito quase devastador. O seu coração queria rebentar. O Dr. Landeiro e a "coramina" mas, sobretudo, o favor de Deus conservaram-no-la, até hoje. Demos graças por ti e por ela. Uma coisa ficou assente: se houvesse mais filhos, nenhum mais nasceria em casa. Um desafio, um perigo para a mãe e para o filho.
Foram 40 anos contigo. Já te disse: és um dom de Deus. Eu volto a agradecer-Lhe tamanha bênção. Parabéns, meu Filho, por este dia. Parabéns a nós, a mim, a tua Mãe, aos teus irmãos por te termos como nosso. Um Homem! Um Cidadão! Um Filho! Um Pai! Obrigado, meu Filho, por nos honrares com a tua vida! Para ti, com Amor!

1 comentário:

hmargg disse...

Quem escreve um texto assim a um filho, merece todo o meu respeito e uma vénia! É raro! Infelizmente, cada vez mais!