
Fui passando, dando conta dos meus estados de alma, relatando para a página o que vi, ouvi, saboreei, senti e cheirei ao longo de uma vida que já vai longa: angústias e alegrias, medos e fanfarronices, lazeres e trabalhos... Falei da minha vida, da minha Aldeia e da minha Beira, enfim, daquilo que amei ... mesmo que já não possa ver. Se lhe dei motivo para me revisitar, agradeço do coração o tempo que me concede.
terça-feira, novembro 04, 2008
Olha que três!!!

segunda-feira, novembro 03, 2008
Viver de novo
domingo, novembro 02, 2008
Romagem de saudade!
quarta-feira, outubro 29, 2008
A minha homenagem!!!
terça-feira, outubro 28, 2008
Vozes do meu encanto
http://uk.youtube.com/watch?v=89JbzIhIwlE&feature=related
Rafaela Carra
http://uk.youtube.com/watch?v=3pc36uDfB8Q&feature=related
Rafael
http://uk.youtube.com/watch?v=Oxyzky_WPHU&feature=related
e
Silvie Vartin, outra "paixão" juvenil, com esta canção
http://uk.youtube.com/watch?v=Y4wi0r2Pl4g&feature=related
25 anos depois
http://uk.youtube.com/watch?v=oCC4QvG6mCI&feature=related
Silvie, 40 e ... anos depois... o tempo!!!
http://uk.youtube.com/watch?v=2HEow-J0GWo&feature=related
segunda-feira, outubro 27, 2008
Junto da Mãe!!!
O Bispo de Setúbal com o seu Presbitério |
quinta-feira, outubro 23, 2008
A minha Mãe!

Querida Mãe,
domingo, outubro 19, 2008
Catequese

Para os meus Meninos:
sábado, outubro 18, 2008
Ao meu Herói!
http://www.youtube.com/watch?v=RIgiZj27odI
sexta-feira, outubro 17, 2008
Estrela da minha vida!
quarta-feira, outubro 15, 2008
Amar como Jesus amou
http://www.youtube.com/watch?v=vzCOGzV25KQ
a "cópia" também está deliciosa...
http://www.youtube.com/watch?v=NFouZjRoce4
Nossa Senhora da Graça

Desde tempos imemoriais o dia 8 de Setembro é o nosso “feriado paroquial”. Dia que a Igreja Católica dedica à celebração da Natividade de Maria, para nós o "dia de Nossa Senhora da Graça". Honra nos seja feita, a devoção deste nosso Povo à Mãe de Jesus, neste dia 8, tem conseguido vencer o desejo “natural” de ganhar mais dinheiro à custa da sua festa, pelo que tal data se mantém intocável. Nunca se caíu na "tentação" de "empurrar" tão querida celebração para o mês de Agosto, mês de emigrantes e de mais gente em férias, ou "encostá-la" a um fim de semana. Foi assim também, neste ano. A igreja estava cheia, uma homilia de se lhe “tirar o chapéu", com o nosso Padre Moiteiro a apresentar-nos Maria como aquela que nos indica o caminho para seu Filho, Jesus. Um excelente momento de doutrinação cristológica. A procissão teve o sabor dos velhos tempos, mesmo na ausência dos foguetes que a Lei não permite. A Banda a tocar e o Povo a cantar: “Nossa Senhora da Graça/ Padroeira desta Aldeia/ A velar pelos seus filhos/ Do Inimigo defendei-a”./ Nossa Senhora da Graça/ Este amado Povo teu/ Quer, ó Mãe, sempre amar-te cá na Terra/ Com este amor forte e leal/ Que perdura até ao Céu”. Foi a minha mãe que, desde o colo, me ensinou a rezar. Foi a minha mãe que me ensinou também a cantar e, assim, louvar a Mãe do Céu. Matando saudades dum tempo que não mais voltará, cantei, de novo, nas ruas da minha Aldeia.
Educado desta maneira, sentindo desta maneira, vivendo desta maneira, não será de estranhar que o meu espírito se tivesse ensombrado com a “coincidência” de constar o facto das festas do 1º. Centenário da Banda se terem alongado, sem necessidade, em meu entender, por todo o dia 8. Vi pessoas no “ramo”, no adro da igreja; sei que havia pessoas no terreiro da antiga escola, onde decorriam as festas da “União”. Fiz e ouvi comentários de que “não havia necessidade…” Serei diferente dos outros? Talvez, mas “quem nasce torto… tarde ou nunca se endireita”. E a liberdade de expressão é do pouco que nos resta do "25 de Abril"... Por quanto tempo?
Para aliviar alguma decepção deste dia que vivi, proponho-lhes o “nosso rei", Roberto Carlos…
terça-feira, outubro 14, 2008
A Família
http://www.youtube.com/watch?v=RdkscK-QBqc
UTOPIA, um hino à FAMÍLIA... Vale a pena ouvir a introdução, pois segue-se uma linda canção:
domingo, outubro 12, 2008
100 anos de "A UNIÃO de Aldeia de João Pires"

A missa solene, a procissão, o almoço melhorado, o “ramo”, o leilão das ofertas – quanta generosidade e competência na gente pobre!!! – e a Banda tocando, tocando ... dezenas de pares a dançar, no alcatrão da estrada, interrompidos umas poucas vezes com a passagem de algum raro automóvel….O único momento triste era o do pôr-do-sol e ... o fim da festa. Não, ainda não havia luz eléctrica. Acabava mesmo com o anoitecer.
Ficara combinado que, a partir dos 5 cantos da Aldeia, cada uma delas viesse actuando para o encontro no Largo Padre José Maria Lopes Nogueira – há-de ser sempre o “Largo do Rato” – donde seguiriam todas tocando, em simultâneo, a “Marcha do Centenário” (uma adaptação, a propósito, do que já fora executado nos 50 e nos 75 anos) em direcção ao campo das festas, anexo à antiga escola primária e em frente à Sede de “A UNIÃO”. Entre as 14 e as 16 horas aquilo ia dando “p´ra morrer”, pois o programa não havia maneira de “arrancar”. Nem tudo foi prejuízo, pois revelou-se tempo insuficiente para pôr as memórias em dia, com acima ficou escrito. Acontecera que a Banda de Alcácer, graças ao “Eu sei o caminho” do motorista do autocarro que a transportava, “acertara em cheio” com a pior opção, seguindo a A23 até ao Fundão e “enfiando-se” pela “estrada” da Fatela. Uma lástima para os convidados, uma lástima para nós! Mas “tudo está bem, quando acaba bem” e, pelas 17 horas foi um momento bem emocionante, dezenas de instrumentos a tocar, centenas de gargantas a cantar “Já se vêem lindas raparigas/saias garridas/blusas de chita/e a banda vai tocando/ e ao ir passando/o Povo grita:/ Aldeia de João Pires,/ por aqui não tens rival/ és a primeira das Beiras/gritam as solteiras/ neste festival…” Depois, os discursos de circunstância, os políticos – por acaso não muito oportunistas, pois nem sequer tiraram “dividendos” da atribuição da “Medalha de Ouro do Concelho" – a presença do Sr. Prof. Dr. Martins da Cruz, grande benemérito de “A União” que, numa idade avançada, quis estar presente. Com amor e sacrifício, era evidente. Finalmente, aquilo de mais gosto: música, música, música até às tantas. Pelas cinco bandas. À vez.
sábado, outubro 11, 2008
Deus me deu uma Filha
sexta-feira, outubro 10, 2008
Vivendo um grande Amor!
http://www.youtube.com/watch?v=Mtvl8IbX434&feature=related
Porque não "Diana"?????
http://www.youtube.com/watch?v=fuTbB-d12A0&feature=related
Estou um mãos largas: Chubby Checker e "Let's twist again"...
http://www.youtube.com/watch?v=K5PqydMA1kA&feature=related
Grande farra!!!!
Pronto, já chega!!!
Tenho direito ao meu casamento!!!
Começo por afirmar que não me faz qualquer mossa que os homossexuais consigam ver aprovada uma Lei que garanta os seus direitos civis, num estatuto específico que trate de maneira diferente o que é diferente, pois cada um viverá como entender, sem afrontar os outros cidadão, e fará do seu corpo e das correspondentes partes o que lhe der na gana. Não aceito é que me queiram meter no mesmo saco… ou que se queiram meter no saco em que já me encontro, com muitos milhões de outros casais.
Ora numa época em que a estabilidade do Mundo corre gravíssimos riscos financeiros, económicos, laborais, sociais e empresariais a nossa RTP, no seu noticiário das 13 horas de hoje, ofendeu-me, nos seus primeiros 13 minutos, com a discussão do projecto de Lei do Bloco de Esquerda para “casamento” dos homossexuais, ouvindo vozes minoritárias que, em nome da Liberdade, querem esmagar, completamente, o sentir e o querer de uma grande maioria a quem não é dada qualquer oportunidade de dizer o que pensa. Estas minorias tomaram conta dos órgãos de comunicação social e ali se afirmam como únicos detentores da verdade, chamando todos os nomes a quem deles ousar discordar, fortemente apoiados na inércia ou até na cobardia da grande maioria dos que pensam que “casamentos” de homossexuais não pode ser mais do que uma brincadeira de mau gosto. Mas eles estão determinados, bem apoiados e não se importam de ofender os casados, que eles querem imitar, chamando de “casamento” aquilo que não o é, há milhares de anos, mesmo antes do alvorecer do Cristianismo. Sinto-me envergonhado, sinto-me ofendido, pois tal como eles tenho direito à diferença. Tenho direito a ver o meu casamento respeitado, como o constituí, com minha mulher, há 42 anos, tenho direito a não ver esse estatuto alterado por pressões e influências de pessoas que gostam de dar nas vistas “macaqueando” a celebração de “casamentos”, à porta da Assembleia da República, que devia ser respeitada e fazer-se respeitar, tenho direito à indignação pela atitude confrangedora de deputados que, sem um mínimo de pudor, votaram contra o Projecto de Lei e fizeram declarações de voto a favor do que acabavam de “chumbar”, sem coluna vertebral, querendo ter “sol na eira e água no nabal”. Uma vergonha que envergonha a classe política, uma vergonha que nos envergonha a quase todos. De que têm medo esses “representantes do Povo”? Entendo, pois, que se os homossexuais querem ser respeitados, comecem por respeitar também a grande maioria dos Portugueses e o seu casamento que tanto querem ofender!!! Tenho direitos! Tenho direito ao meu casamento!!!
quarta-feira, outubro 08, 2008
O Zeca canta
Quanto é doce, quanto é bom,
segunda-feira, outubro 06, 2008
Cesária Évora
Obrigado, Cesária Évora!!!
http://www.youtube.com/watch?v=hQspgLUTBKA
http://www.youtube.com/watch?v=0djuGyISzNE&feature=related
Na Beira Baixa...

Gosto da nossa Beira, amo a minha Aldeia. É sempre com alegria que lá volto e piso aquelas terras que foram meu berço e de muitas gerações que me precederam. Não podia ser diferente, desta vez! Até porque havia um motivo maior para estar presente: o 100º. Aniversário da Fundação da nossa banda filarmónica, “A UNIÃO de Aldeia de João Pires”. Para sistematizar esta minha passagem pela Beira Baixa, vou arrumar a minha escrita em 4 capítulos, neles se poderão encontrar as minhas emoções por ter aqui passado dias tão cheios e felizes.
1.Camponês:
Nasci, no campo, cresci no campo, vivi no campo, amo o campo. É uma paixão mergulhar as mãos na terra e poder senti-la escorrer por entre os dedos, ver as sementes brotarem e crescerem, darem fruto e matarem a fome. Ficou-me por lá um bocado, que já foi dos meus avós e que me dá mais despesas que proveitos, trabalhos e canseiras. Lá se passaram duas manhãs a cortar as vergônteas das oliveiras, a arrancar as giestas e os codeços, a pulverizar as silvas, “tratar-lhes da saúde” … a limpar a barroca para que as águas de Outono possam seguir o seu caminho, em paz. Uma trabalheira, um suadouro, uma paz de espírito. Haja vida e força para continuar!
2. Viajante:
Monsanto há muito estava no meu roteiro. Ouço, pela Internet, o RCM. Sou amigo e admirador pessoal do seu director e tinha um convite, mais que repetido, para o visitar, em sua Casa. Foi muito bonito ver o edifício e o equipamento. Graças à carolice e generosidade de um homem notável, o Prof. Joaquim Fonseca, há mais de 40 anos monsantino por afinidade e adopção, que dedica a sua vida e as suas muitas capacidades, com muitos sacrifícios pessoais e até financeiros, já lá vão 23 anos, à missão de levar a voz da nossa Beira a todo o País e a todo o Mundo. Obrigado, Professor.
A povoação, a “aldeia mais portuguesa de Portugal”, é um encanto. Para onde quer que nos viremos aquelas pedras têm hist´ria p´ra contar, são portuguesas, são beirãs... As ruas, as casas, as fontes, a igreja, a torre, os miradouros, toda aquela paisagem que se avista lá do alto nos “esmaga” e exalta. Monsanto, uma Aldeia a visitar.
Vale da Senhora da Póvoa: Estando de visita ao Convento de Mafra, anos atrás, um cavalheiro espanhol quis saber de mim qual o melhor caminho para Aljubarrota. Esbocei um sorriso, confesso, um tanto trocista, ele percebeu e explicou-se: “Sou professor de História, na Universidade de Madrid, já li tudo o que há para ler sobre essa famosa batalha, mas tenho de ver o local para ver se consigo entender o porquê do insucesso castelhano, contra todas as possibilidades dos dois exércitos…” Lá lhe expliquei o melhor que podia e sabia, despedimo-nos com “hasta siempre” e cada um foi à sua vida.
Vem isto a propósito de quê? Escrevi lembranças da minha infância e juventude em que evocava Nossa Senhora da Póvoa e era forçoso que voltasse ao encontro do que já vira, há muito, e ligar a escrita à realidade, aos caminhos, ao santuário, à povoação.
Chovera com alguma abundância na noite de sexta-feira para sábado e a manhã chegara fresca e húmida. Aproveitei-a para a labuta campestre, como já referi, marquei encontro, para depois de almoço, em Penamacor, com um dos muitos amigos feitos via Internet, Bons conversadores, foram duas horas e meia, que passaram num instante. Obrigado, Prof. Caldeira!
Já a tarde ia adiantada quando me dispus a cumprir aquilo que há muito fora decidido: saber quantos Kms iam da minha casa ao santuário, rever paisagens e povoações, encontrar paz e tranquilidade. Concluir que a viagem, em quatro rodas, era mais confortável, mas não tinha o encanto da que fizera aos 27 anos. Os campos estavam agora quase todos cheios de mato, excepto nos arredores dos povoados. Mas era a festa do verde e dos cheiros. Os incêndios não haviam passado por ali, a terra fora regada e deitava aquele odor tão característico e agradável que, juntamente com os da esteva, do eucalipto, do pinheiro do rosmaninho me inebriavam, enchiam de bem-estar. As curvas eram mais rápidas de fazer e lá cheguei ao alto da “Serrinha”. Avistei o santuário, para a esquerda, ao fundo da Serra d’Opa, logo a seguir a Povoação e depois todo um lindo vale, tão bem aproveitado para dar o nome a esta Aldeia. Especatcular. Parei, saí, admirei e enchi os pulmões com aquele ar tão puro e leve, quase capaz de “dar vida a um morto”. Fui descendo, devagar. O recinto estava muito diferente do que eu conhecera. Com mais conforto. Como será no dia da festa? Entrei na Capela e venerei aquela imagem que leva a fama de Maria até bem longe. Pedi-lhe por Amigos, filhos seus, desde pequeninos, ali lembrados por mim, também seu filho menor. Achei a povoação, como tantas outras, triste e “abandonada”. Quase não vi gente! O maior sinal de vida foram as belas hortas que a cercam, indício de água abundante e trabalho extenuante. Com certeza daqueles que já pouco podem e que, num último alento, vão tentar prolongar a vida do que tanto amaram e amam. Quis pisar o recinto de festas onde haviam estado amigos meus, duas semanas antes. E senti uma grande nostalgia. Era tempo de regressar, fazendo-o, na convicção, de que poderia ser a última vez.
Por isso, não quis deixar de passar pelo Meimão. A única das nossas aldeias que nunca visitara. A barragem – uma pequena decepção, julgava-a maior – depois sempre mato, pinhal, eucaliptal. Bem lá no fundo, uma pequena povoação. Ruas muito estreitas, um larguinho para as festas. Gente valente, capaz de viver lá, nesse fim de mundo. Admirável!! Que dia!
sexta-feira, outubro 03, 2008
Olá, Portugal
Las Palmeras

http://www.youtube.com/watch?v=3YdKVHeVPbw
http://www.youtube.com/watch?v=U_4dW70LDEQ&feature=related
quarta-feira, outubro 01, 2008
Jambalaya
http://www.youtube.com/watch?v=-4o86juvMEE
Jerry Lee Lewis, genial!!!
http://www.youtube.com/watch?v=Vy-aBREXkGo&feature=related
domingo, setembro 28, 2008
O Grande Desafio!
quinta-feira, setembro 18, 2008
segunda-feira, setembro 15, 2008
A Ti’ Joaquina Rosa tinha já muitos, muitos anos, quando eu, muito criança, brincava, ali, na calçada do Largo do Pereiro, “à sombra” da minha avó Emília, enquanto os meus pais lidavam nos afazeres do campo. Era uma figura castiça, com fama e proveito de uma inteligência fora do normal, “danada para o negócio”, quase impossível de se deixar enganar. “Ladina como uma raposa” – dizia-se. Era conhecida na Aldeia e por toda a redondeza, andando de terra em terra, com o burro carregado de loiças de barro, raramente o poupando ao peso do seu corpo bem avantajado. Eram numerosas as histórias que se contavam da sua sagacidade, algumas ainda passadas de boca em boca até aos que agora são contemporâneos dos seus bisnetos. A maior parte das lendas conhecidas diz respeito à sua enorme apetência pela boa comida E nisto tenho de lhe gabar o bom gosto
Ora, no primeiro fim de semana deste mês, de muitas emoções e memórias, abraços para aqui e conversas para ali, veio à baila o meu passeio até à Senhora da Póvoa. Logo uma querida amiga de infância se havia de recordar de uma das muitas “aventuras” da Ti’ Joaquina Rosa.No meio de gargalhadas e boa disposição as coisas ter-se-iam passado mais ou menos assim:
Ainda o século passado era menino e nenhum de nós tinha nascido, já a festa de Nossa Senhora da Póvoa dava brado por toda a Beira Baixa e até mais longe. Na parte Sul do nosso Concelho, era mesmo um dos poucos e fortes pontos de referência com o Norte, a par da “Terra Fria”, onde se iam fazer as ceifas e buscar sementes para renovar as culturas e tentar conseguir melhores colheitas. Mas vamos à Ti’ Joaquina Rosa, antes que ela nos escape.
Chegara a Primavera, os aleluias pascais já tinham ficado para trás e o mês de Abril cedera, no movimento perpétuo da Terra, lugar ao mês de Maio.
- Ó Emília, tenho vontade de ir à Senhora da Póvoa. Mas a merenda está-me a fazer confusão, pois lá em casa as farturas não são nenhumas…
- Ó Joaquina, tu nunca paras em casa, andas sempre no teu negócio. Que vais tu “cheirar” à Senhora da Póvoa??? Também cá temos a Senhora da Graça…
- Ó Emília, tenho mesmo de ir. Fiz uma promessa a Nossa Senhora…
- Estás sempre com as tuas… Que promessa foi, desta vez?
- Olha, prometi a Nossa Senhora estar lá no seu dia e comer da melhor merenda que se encontre no arraial…
- Tu estás boa do tino? Com a filharada que tens e com negócio que pouco dá, não te vejo maneira de comeres da “melhor merenda da festa”.
- Ando cá com ideias. À festa vou. A merenda também se há-de arranjar!
O tempo passou rápido, conversas de festa mais não houve.
Para espanto da minha avó materna, na segunda feira do Espírito Santo daquele tão longínquo ano, não viu a Ti’ Joaquina Rosa. Não ligou importância ao facto, dado que era normal ela sair, com o seu burro, alta madrugada, para efectuar o pequeno negócio a que se dedicava, tantas vezes trocando pratos, tigelas, jarros… por feijão, milho, centeio ou o que houvesse, pois dinheiro é que não abundava.
Já a semana ia alta, quando se reencontraram.
- Ó Joaquina, nem te tenho visto. Por onde andaste?
- Não te falei que tinha uma promessa à Senhora da Póvoa? Fui na segunda feira…
- Ora, ora. De burro lá foste?! Mas não tinhas falado em “comer a melhor merenda”… Não me cheirou a nada…
- Olha, Emília, essa foi a parte mais fácil…
- Fácil?! Como podes dizer uma coisas dessas, mulher? Não troces da miséria…
- Então, ouve-me com atenção. Levantei-me muito cedo, aparelhei o burro, a lua deu um jeitinho e aí vou eu. Chegada a hora da Missa, lá estava eu no meio daquela gente toda…
- Mas a merenda, a merenda?!
- Espera aí, que a merenda já aparece. Assisti à Missa, fui na procissão e não me esquecia de ir rezando “minha Senhora da Póvoa ajudai-me a cumprir a promessa”. Já viste como é. Acabada a parte religiosa, foi um estender de mantas e toalhas por cima daquela erva toda. Aproximei-me de cada família, cumprimentava “Boa tarde!!!!” “É servida?” diziam-me, simpáticos, “ Por enquanto, não, obrigada; tenho uma promessa a Nossa Senhora de comer da melhor merenda; pode ser que cá volte; até já!” Ó Emília, tu não vais acreditar, mas TODOS me disseram que ficavam à espera, com um sorriso.
- E depois? E depois? – questionou a minha avó, mais que conhecedora das artimanhas da vizinha, mas ansiosa.
- Tem calma, que vais saber o resto. Dei volta ao arraial, fiz a minha apresentação, à medida que ia passando, e ia deitando o olho. Quando já tinha visto o suficiente, voltei àquela que me agradou mais e apresentei-me “Há pouco convidaram-me para comer da vossa merenda, eu disse que tinha promessa de comer da melhor que cá estivesse; a vossa é, sem dúvida, a melhor merenda deste arraial, aceito o vosso convite”.
- Ó Rosa, é preciso descaramento. Que grande lata!!! – exclamou a minha avó indignada.
-Ó Emília!!! Havias de ver a cara de satisfação com que me receberam!!! Fui mais que mimada. Afinal, graças a mim, ficaram a saber que tinham a melhor merenda de todo o arraial de Nossa Senhora da Póvoa. Olha que ainda me podiam ter dado algum para o caminho…
- Francamente, Joaquina, francamente! Que descaramento!!! – murmurava, quase incrédula, a minha avó…
Nota:
Acho que a Ti’ Mari’ Rosa tinha razão: hoje, os nossos “provadores” fazem-se pagar “a peso de ouro”; estava avançada para a sua época.
segunda-feira, setembro 01, 2008
A Caminho da Senhora da Póvoa ´2
Enquanto recordava as peripécias de há anos atrás, depois da conversa com a prima, Carminda tinha a certeza de que não ia ligar mais ao assunto. Estava encerrado mesmo. Deus mandava-lhe ser boa, mas burra é que não. Duas tentativas, sempre com o mesmo resultado, eram de mais. A prima não batia bem da bola e Nossa Senhora da Póvoa ia dar-lhe “um desconto”. Sim! Afinal também era Mãe dela e as mães dão sempre “um desconto”…
- Ora esta! Tanto que eu tenho de fazer! Vem já aí a Festa, o ensaio das alvíssaras e dos cânticos da Missa, os bolos, a limpeza da casa, a visita do senhor padre – ai, se as coisas não estivessem num brinquinho, na sua modesta casa, seria uma vergonha. Pobre sim, mas asseada – ia pensando com seus botões. Mas o pensamento não têm travões. Ah! E a festa a Senhora do Incenso já ali mesmo à porta, ia ser p´ra deslumbrar com os seus dotes de cozinheira. O belo galo tinha os dias contados, os chouriços estavam uma delícia. Porco bem tratado. As pataniscas. Os pasteis de bacalhau... Queijo do melhor. As azeitonas estavam para “comer e chorar por mais”... Não bebia, mas a pinga não havia de faltar. E da boa. Ah! A toalha a estender na relva ia ser surpresa. Das poucas economias tirara algum para deslumbrar o pessoal. Até salada haviam de ter, de umas alfacitas escapadas ao frio do Inverno que passara. Uma trabalheira, como se já não bastasse ter casado com um ganhão “o mais desgraçada dos trabalhos” - desabafava Mas agora que o filho mais velho regressara de África, são e salvo, ganhara novas forças. Ele bem lhe ia contando que outros seus amigos não haviam tido tanta sorte… Porque baixaria a voz, quando falava nestes assuntos? Mas já tinha uma netinha, com dois anos, nascida na “tropa”. Esta gente nova não tem juízo nenhum, sempre cheia de pressas. E um netinho de meses…Olha a pressa! Não, desta vez já não foi um jipe militar que levou a mãe à maternidade. Ah! A merenda não seria p´ra valer menos que nos outros anos. Ter alegria … alegria é que ia ser difícil. Viera um, fora o outro, que “estava passando um inferno lá Guiné”. Tanto, tanto rezava que até adormecia de cansaço, com o terço nas mão, depois de um dia de trabalho sempre a doer. “Estes malandros dos ricos ficam com tudo e só não nos tiram o sangue porque depois já não têm quem trabalhe para eles”. Mas aquele filho lá na Guiné, quando já pensava que se safava… Um sofrer tão forte que nem de noite nem de dia se acalmava. Doía… doía… doía. A sua cabeça, sempre àlerta, parecia agora o fervedouro do caldeiro pendurado nas cadeias onde aquecia a vianda do porco…E o coração estalava… estalava… Seria da idade? Mas ainda pouco passava dos quarenta e já tanta opressão. Bom, isto há-de passar. Um já cá está… o outro. “Olha, Mãe do Céu, também to entrego”. Ia pensando, pensando, mas nada estorvava o seu constante mourejar…
As horas, os dias dessa semana da “estrafega” passaram, num instante. O pessoal com a Banda a percorrer as ruas da Aldeia, à meia-noite de Sábado Santo, todo o povo a cantar as alvíssaras em alegres aleluias, o sino quase a partir de tanto tocar – “aquela garotada tá toda maluca, ainda racham os sinos!” – a Missa, as escadas enfeitadas com rosmaninho, o Senhor ressuscitado em casa de cada um “Ò Senhor Prior vá lá nem que seja um borrachãozinho!” “Obrigado, ti Carminda, mas não pode ser…” e mal houve tempo de dizer ai e já os joelhos se dobravam “Senhora do Incenso. Senhora do Incenso, Virgem Mãe .. o meu filho .. o meu filho!!!” Ai o Amor de mãe, o Amor da Mãe!!!
Vinha no regresso, saboreando os elogios do merenda que preparara e de que mal provara, sempre atenta às necessidades de cada um, que não as dela, quando bate na testa e exclama:
_ Ora esta!!! O meu Tó já cá está e temos de ir à Senhora da Póvoa, a pé. Olha se me esquecia…
E, naquela tarde, fosse pelo cansaço, fosse pelo problema já poucas palavras lhe ouviram.
- Ó Carminda, estás tão calada!... Sentes-te doente?...
- Ai, homem, não vês que estou cansada? As mulheres somos umas desgraçadas…Logo tu só sabes pegar na rabiça do arado… E outros nem isso…
Sempre resmungona, sempre a refilar, mas seria sempre a paixão da sua vida. Mulher a valer, nem em casa nem no campo nenhuma “lhe deitava água nas mãos…”
Ia por uma das ruas de Aldeia, onde naquele tempo ainda a vida fervilhva, quando topa a prima.
- Ó Maria, lembras-te da conversa que tiveste comigo na Semana Santa?
- Entã…ão não há…via de lem…lem…brar?. C’a res…pos…ta que tu me…me deste?!
- Olha. Prometi a Nossa Senhora da Póvoa que iria lá, a pé, quando o meu Tó viesse da África. Vou falar com ele e depois te digo alguma coisa?
- Então pos…so te..er s’pe… ran…ça?
- Olha, nem sim nem não… Espera pela resposta.
O tempo passa depressa e, logo na primeira ocasião, lá vai.
- Ó Tó, tenho uma coisa p’ra te dizer. Quando andavas por lá, prometi ir contigo à Senhora da Póvoa, se voltasses em condições de ir… Que me dizes?
- Ó Mãe. Na nossa Família as promessas são para cumprir. Quer ir já este ano?
- É melhor. P´ró ano não sabemos se lá chegamos…
- Então como é que isso funciona?
- Olha, aquela pateta da tua prima Maria já lá foi a desinquietar-me Eu disse-lhe logo que não, pois já chega a parvalheira das duas últimas vezes. Mas de companhia faz-se melhor o caminho. E vou ver se arranjo um grupinho…
- Ó Mãe, mas eu moro em Penamacor… A que horas é que me quer cá?
- Bom, temos de sair às 3 da manhã para assistirmos a tudo. Até porque nunca se sai à hora certa, Tu estás levantado às cinco e meia e pronto a marchar. Batemos-te à porta e “ala que se faz tarde”.
- Ó Mãe, mas a promessa que fez por mim fica coxa…
- Deixa lá que Nossa Senhora vai ter em conta as caminhadas que eu já fiz…
Confortavelmente instalado na posição que lhe era “oferecida” o filho não “foi capaz” de arranjar argumentos. As Mães são mesmo assim: se pudessem, andariam sempre com os filhos ao colo.
Eram cinco e meia da manhã, quando um rijo bater à porta, na Rua Padre Mestre, mesmo por cima da antiga 1ª. Companhia Disciplinar, me acordou.
- Quem é???!!! – perguntei, estremunhado.
- Sou eu!!! Então ainda estás na cama???
- Ó Mãe, desculpe, mas deixei-me dormir…
- Quero-te cá em baixo, num instante. Não, não quero subir que acordamos os gaiatos e perdemos tempo. Despacha-te…
Se despachei??? Ora, vocês não tiveram a sorte de conhecer a minha Mãe…
Eram cinco mulheres e um rapaz. Sim, rapaz, eu tinha 27 anos…
Penamacor fica para trás, num instante. Curva e contra curva pela estrada da época, passada a antiga estalagem aí está o acesso para a carreira de tiro, o sol despontara numa radiosa manhã de Primavera, num alvorecer inesquecível, mas que, temíamos, pudesse dar para o calor. Reza-se, canta-se conversa-se, pensa-se. Já a Meimoa acorda, quando atravessámos o povoado. Eu, com menos dez quilómetros rodados, sempre a puxar.
- Filho, vai mais devagar. Julgas que temos a tua idade? Além disso, vamos chegar a horas.
Sobe, sobe, curva e mais curva e aproximava-se a descida, a caminho do ”lugar da crise”. Duas das peregrinas, bem lembradas, não querem repetir a “proeza”. A minha Mãe, bate no ombro da prima e pôs o dedo no nariz: “Sscchhiiuu” A outra percebe todo o drama da situação e faz “que sim” com a cabeça. Todos se calam e só se ouvem os sapatos a bater na berma da estrada trás… trás … trás… catrapás … A tensão aumenta entre as duas. Ou agora ou nunca. Mais uns passos, mais uns minutos, lá se avista a capela e… pronto. Já passou!
A descontracção começa a instalar-se. Cinco dos caminhantes preparam-se para retomar a conversa, quando, Deus do Céu, não podia ser:
- Ó se.e.nhor pró.prio.f’sor, foi me.e.esmo a.ali a.atrás que das ou.ou.tras ve.e..zes “per…er.di a pro.pro.me.essa”…
Primeiro, um silêncio opressivo. Depois um riso a medo, seguem-se cinco gargantas escancaradas a rir, a rir em gargalhadas que ressoaram, quase de certeza, por montes e vales, até aos declives da Serra de Opa, seguramente até aos ouvidos de Nossa Senhora da Póvoa. Que deve ter rido também connosco.
Só a Maria, atarantada, perguntava, gaguejando:
- Ó Cra,car.min.da, no stá.ás zan.gaa.da com.comi.mi.go???!!!
(As situações narradas são fruto da imaginação do autor; qualquer acontecimento da vida real que se lhe assemelha é pura coincidência)
Notas:
Naquele tempo ainda se tratavam os professores por “senhor” ou “senhora”.
Acredito que, lá no Céu, Mãe e filhas se riem com gosto, quando recordam estas “aventuras” tão descuidadamente humanas. Fazem-me saudade!
1 de Setembro de 2008
domingo, agosto 31, 2008
A Caminho da Senhora da Póvoa 1
- Caramiinda, só faltam 7 semaanas…
- Sete semanas para quê, Maria???
- Para ir…irmoos à S’nhora da Pova a pé e m…me m…me ajuda…ares a cumpri…i…ir a po…prome…essa a Nonossa Senho…ora da Póva…a…a… - gaguejou.
- Ná! Desta vez não me enrolas. Já duas vezes que fui contigo e mesmo a chegar ao fim, estragas tudo. Isto é de mais e já não tenho idade para brincadeiras…
- Ooh!!! Caraminda po…or fa…avor não me deixes i…ir p’ro Infe…erno…o… - insistia a outra.
- Não, não desta vez não contes comigo.
Passou-se numa Semana Santa de há muitos anos atrás, precisamente no início da década de 70.
Maria era uma das figuras típicas da minha Aldeia, um tanto “abajoujada”, meio “tronga” e “desleixada”. De gente modesta, não tivera vida fácil, como quase todos os nossos aldeãos, que trabalhavam de sol e sol, ao frio e à chuva, para alimentar a preguiça dos das “casa grandes”. Não primava pelo aprumo nem pelo asseio, divertia e divertia-se com os remoques dos outros. Eventualmente, com um baixo coeficiente de inteligência, tinha muitas histórias que faziam com que uma “malta” cruel a “assanhasse” cada vez que passava sobretudo se algum engraçado se atrevia a chamar-lhe “parracha”, vocábulo muito pejorativo na terra que nos viu nascer. Era um despejar de asneiras em cima do atrevido, que chegavam e sobravam para ele e para todos os familiares, próximos ou distantes, até à quinta geração. E esta encenação não acontecia só de ano em ano, podendo a ocorrer várias vezes, no seu percurso, até ao fim da povoação, na estrada para Medelim. Uma figura castiça que, certamente nem a Reforma da Maria de Lurdes conseguiria pôr a ler. Muito menos a calcular. Pelo menos no papel que no resto governava-se com mais ou menos dificuldade.
“Sempre que nasce um sapo, também nasce uma sapa!” Quantas vezes ouvi esta frase lá pelo povoado onde nasci e percorri em dias felizes que já não voltam. Pois foi assim que, sem muito espanto, a Maria lá se casou e teve uma catrefada de filhos, todos pessoas de bem, com uma vida bem mais aliviada que a dos pais que, anos fio, foram sendo pastores de algum dos muitos rebanhos que, ao tempo, enchiam caminhos e pastos com o tilintar bucólico de chocalhos e campainhas, a vaidade dos donos daqueles animais que davam vida e algum ganho às nossas pobres gentes beiroas. Dormir na choça, parir filhos sem parteira nem maternidade, trabalhar muito e receber pouco foi o destino da nossa Maria, muitas vezes motivo de galhofa de muitos que se achavam engraçadinhos.
Carminda era prima da Maria. Talvez daí a amizade que as unia e uma certa cumplicidade com as suas “parvoíces”. Ficara órfã, ainda na adolescência, fora criada com 3 irmãos por uma jovem Mãe que nunca mais deixou o seu fato de viúva, e só se lembrava de sempre ter trabalhado. Ah! Aquele malfadado “rolho” “areando” a terra e separando volfrâmio para prolongar, cruel e inutilmente, uma guerra que devastava a Europa, enriquecendo uns, com extravagâncias inconcebíveis, e explorando os mais fracos, de maneira escandaloso e muito sofrimento!!! Mesmo assim, ainda fez a 3ª. classe, um “bacharelato” nos anos 30 – a “licenciatura” era “dada” pela quarta classe, numa das salas da Escola de Penamacor, onde a nossa Carminda nunca chegou a pôr os pés, não por falta de capacidade, mas sem oportunidade.
Por força das circunstâncias, aos 20 anos casou. Não foi o enlace que sonhara, mas o possível, já que detestava a vida do campo e saíra-lhe na rifa um “ganhão”. O destino de ambos estava traçado…
- Filha, uma casinha nova é o sonho de qualquer rapariga. É trabalhador, não tem vícios, uma junta de vacas… blá… blá..
Ah! A força de uma Mãe quando o candidato sabe namorar em dois dos campos.
Entregue ao seu triste destino de tratar dos “torrões” dos outros, aqueles arrendamentos e aqueles ricos exploradores e sem coração, nem por isso deixou de se fazer notar pela sua inteligência e sagacidade, argumento na ponta da língua de “mais vale perder um amigo do que guardar uma boa resposta”. Militante convincente do Catolicismo, nem sempre esclarecido, mas sem culpa própria, poucas iniciativas passavam por ali sem que estivesse presente. A sua devoção mariana tornavam-na uma grande fã, como hoje se diz, das peregrinações a pé, a pão e água… e das nossas romarias. Ah! Que ricas merendas ela sabia preparar!!!
Ora a nossa história começa uns quatro ou cinco anos antes da conversa que inicia este texto. Numa das suas muitas aflições, a Maria, uma língua de trapos, socorrera-se de Nossa Senhora da Póvoa:
- Virgem Santíssima, valei-me nesta aflição e eu prometo que irei à vossa romaria, a pé, desde Aldeia, sem dizer uma só palavra em todo o caminho…
Para quem a conhecesse, ou a aflição era grande ou a inconsciência do prometido quase irresponsável. Mas estava prometido, estava prometido. Pronto!
O pedido para tão grande desespero teve a resposta pretendida e “promessa de rei (rainha) não volta atrás”. Estávamos no tempo em que se vendiam prédios para sempre com uma “única palavra” ou, então, depois de bebido o “albroque” estava negócio fechado para sempre. Ah! Escrituras e simplex podiam ser dispensáveis, eram mesmo ignorados!
Ora pois. Havia a promessa para cumprir. Sem lugar para hesitações nem desculpas. Promessa era promessa. Deixemos os juízos de valor aos iluminados de hoje!!!
A Maria dava voltas e mais voltas e não tem dúvidas.
- A minha prima Carminda vai dar uma ajuda…
Conversa daqui, conversa dali, convida-se esta e aquela e tudo se arranjou. Até porque a Carminda estava em vésperas de ter os filhos lá pelas Africas, prontos a marchar para uma guerra sem sentido nem motivo. Acreditava, profundamente, que tendo a MÃE de Jesus por aliada as coisas poderiam correr da melhor maneira, como era o seu desejo mais profundo, abraçá-los vivos e escorreitas, no regresso. Oh! Mães de Portugal quanto sofrimento injusto e injustificado!!!
Foi assim que, lá pelas 3 da manhã de uma 2ª. Feira do Espírito Santo, aí vão elas, quase só elas – já nesse tempo era mais fácil levar os homens à taberna… - não sem que antes a cartilha tivesse sido bem lida:
- Maria, já sabes que não podes abrir a boca e nós não estamos aqui para brincadeiras!!!
- Está…á be…em… Sei be…em qual é o meu traba…a…a…alho…
Dada a partida, passa-se a Aldeia do Bispo – uma pêra doce – Penamacor – ui que já me dói um tornozelo – a Meimoa - ai os meus joelhos que nem os sinto – caminhado, rezando, cantando, falando. E a Maria “ moita carrasco” . Um poço de silêncio. Parecia, sim parecia, que a vitória era certa!!!
Ai aquele caminho depois da Meimoa que não mais chega ao fim. Upa que já falta pouco. E lá vão, passo a passo, quilómetro a quilómetro.
- Ui! Estes quilómetros são mais compridos que aquele dois até Aldeia do Bispo – exclama uma delas.
VSP já aparece lá ao fundo bem iluminado pelo sol brilhante de uma manhã suave de Maio.
- Força que estamos perto.
De repente, numa curva da estrada, vislumbra-se algo que todos julgam ser a capela de Nossa Senhora da Póvoa e ouve-se com entusiasmo e alegria:
- Mi...inha Senhoira da Pova, que já vos vejo!!!
O espanto deixa os peregrinos gelados. Faltavam uns poucos quilómetros e aquela desbocada não conseguira conter-se. Nem a caminhada, nem a Fé, nem a Esperança, nem a Caridade foram tidas em conta numa explosão de revolta e ira:
- Minha grande maluca, todo este sacrifício e estragaste tudo!!! Estava quase, quase e essa língua destravada só fala de mais…
A viagem vai até ao fim. Nessa já tão distante segunda feira a devoção a Nossa Senhora da Póvoa foi vivida por cada um dos caminheiros segundo o seu entendimento Mas a promessa … Ah! A promessa fica para um novo episódio…
(Esta narração é fruto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com situações reais é pura coincidência)
sexta-feira, agosto 29, 2008
Aposentação
Começando lá pela Aldeia que me viu nascer, viajei pelo Mundo e vim aterrar nas margens do Rio Azul e por aqui me fiquei. Até porque, cada vez que mudávamos de terra, nascia-nos um filho e entendemos que quatro eram bastantes. Não que sejam de mais!!! Foi uma vida cheia. Vivi.
Mas agora queria fazer uma pequena reflexão sobre esta chegada à meta. Desde há meses que dei conhecimento ao Senhor Bispo de Setúbal de que gostaria de ser dispensado da honrosa missão que a Diocese me entregara: dirigir uma das suas Escolas. Sentia que, nestas coisas, não há lugar para fraquezas nem desculpas, que com a Educação não se brinca e que as Crianças têm o direito de exigir de nós o máximo, o que eu já não me sentia em condições de fazer. Foi assim que as coisas, com naturalidade, se foram encaixando de forma que a hora do adeus se foi aproximando inexorável, mas certeira. E tudo até correu bem: as festas com Crianças e Adultos foram bonitas, fartas, amorosas, imerecidas. Muitas mensagem de Amizade, muitas provas de Carinho, tentando “amortecer” a dor que toda a perda, toda a partida contém. Ficam as recordações, a sensação de ter feito o melhor que podia a sabia, com tantas limitações e falhas. Fica a certeza de ter ajudado o Mundo a ser melhor e de que, se fosse possível voltar atrás, como desde Criança dizia, repetiria: “Quero ser Professor!”
Abril em flor!!!
O Inverno era longo e doloroso, no frio e na fome. As alegrias da Primavera continham a esperança do regresso do Sol e da “Festa de Flores”. Era por este nome, ouvido da boca da minha Mãe, que eu comecei a conhecer a Páscoa. À mistura com a esperança em dias melhores aí estavam as amêndoas, as “bicas” – não, não é a “italiana” nem a “cheia” - as “boas festas”. Era um desatino, nos cheiros, nas músicas, nas cores e nos sabores. Mas o melhor estava para vir. A Senhora do Incenso, com toalhas estendidas e deliciosas merendas, logo na 2 ª. Feira pascal. Duas semanas depois aí estava a Senhora do Bom Sucesso, ou da Baságueda, com cenário semelhante, com a paródia da passagem da Ribeira, normalmente cheia bastante para haver banhos fora de época, já que as muitas bestas, sim, burros de verdade, não se aguentavam nas canetas e… catrapum. Acudam! Acudam! Uma risada pegada. E, no regresso, os miúdos esperando, à beira do caminho, pela “rebatinha” das amêndoas – lá vai outra. Depois do pôr-do-sol um “morteiro” anunciava o regresso da Banda à Aldeia - e não garanto que todos tocassem a mesma música numa última “arruada” e acabou-se a folia. Contudo, era certo e sabido que, com maior ou menor dificuldade, à noite, todos dormiam em casa. Baságueda, é, pois, um local da freguesia de Penamacor, junto à fronteira com a Espanha, onde se celebra, ainda hoje, uma festa que junta mais Espanhóis que Portugueses, certamente para se vingarem de uma “pesada derrota” que, nos tempos de “agora atacais vós, depois atacamos nós”, lá devem ter sofrido. Do nosso lado é essa a convicção e daí a razão da capela e da romaria. Baságueda dá nome à festa e à Ribeira, afluente do Erges e nascida aí perto de vós, na Malcata. Mas de festas ainda não estamos conversados. Cinquenta e um dias depois era a Senhora da Póvoa, onde já fui a pé, em carro de bois, de mota e de automóvel, algumas vezes, não tantas quanto gostaria. Mas desta sabem muito mais os meus Amigos e “não vá o sapateiro além da chinela…” É a vossa vez de me falarem da maior romaria da Beira Baixa, que os meus Amigos da Idanha não me leiam, pois eles “têm a certeza” de que é a da Senhora do Almurtão. E lá se iam as Amizades e vinha “tchangotada” de “matar bicho” . Não, não esse “mata-bicho” de que falaram atrás… Este de que falo “faz mossa”. Embora com o “outro” também não se deva brincar, sobretudo que as multas já começam a “doer”… Por causa das dúvidas o nosso Zeca canta as duas numa só e linda canção. Não acreditava em bruxas …“mas havê-las há…” “Porque não te calas?” Calo, pois!!!
terça-feira, julho 15, 2008
Os meus Meninos!

Queridos Amigos do 3º. A:
Acabei de ler os vossos lindos textos que me encheram o coração de muita alegria e ternura, aquela ternura que me levava a tratar-vos por "filho" ou "filha" que dava aso a que alguns mais corajosos me chamassem "avô" e me impelia a que vos tratasse como "netos". Recordastes os "muitos" anos que vivemos e convivemos como bons Amigos leais e fiéis.
Assim, daqui a uns tempos, quando eu já for velhinho e vós vos tiverdes tornado lindos rapazes e encantadoras raparigas, aqui hei-de voltar para saborear, para apreciar, para me animar com a mais extraordinária prenda que já recebi, na vida, depois do Amor dos meus Pais, da minha Mulher, dos meus Filhos e Netos.
As "prendinhas" do coração" de que falávamos no 2º. ano, na aula de EMRC, são estas que acabais de escrever e com que me dais mimo e manifestais a grande Amizade que nos une. Foi um momento inesquecível, neste início de 16 de Julho de 2008, e vou recordá-lo como o culminar de uma vida inteira a lidar com Crianças lindas como vós, que fostes as jóias da minha vida. Valeu a pena ter vivido assim. VIVI!!! Com entusiasmo, vos digo: por vós e para vós, se fosse possível voltar atrás, quereria, de novo, ser Professor, para vos amar e ajudar a crescer e voltar a receber o prémio dos vossos sorrisos, a alegria das vossas palmas, o som das vossas cantigas, a doçura dos vossos afectos, a beleza dos vossos textos...
Queridos Amigos Alunos, querido professor Hugo, tenho a felicidade de vos ter por Amigos. Obrigado Amigos! Até sempre.
Um abraço muito apertado, tendo-vos no meu coração de Amigo para sempre.
Obrigado, muito obrigado. Bem hajam, como dizemos na nossa Beira.
António de Almeida Serrano
segunda-feira, junho 09, 2008
Gostei; não gostei...
Não gostei de ter programado uma visita de 4 dias e nem chegou a 24 horas. Falta de cálculo meu? Bem feito! Não gostei de atravessar o matagal que é a nossa Beira e de ver a calçada da minha Aldeia "forrada" de verde. Para onde vão? Também por culpa minha.